O centrão se uniu à oposição para fritar Paulo Guedes. O processo culinário traz pelo menos duas inovações. A primeira é que os aliados do governo queimam o ministro da Economia na sua própria gordura. Utilizam na fritura os US$ 9,5 milhões que Guedes enviou para o exílio dourado de um paraíso fiscal.
A segunda novidade é que Arthur Lira, presidente da Câmara e principal mestre-cuca do centrão, frita o ministro mais importante de Bolsonaro sem tocá-lo. A convocação de Guedes para prestar esclarecimentos no plenário da Câmara foi aprovada por 310 votos a 146, numa sessão em que Lira, em viagem, se ausentou.
Nem as almas mais ingênuas de Brasília imaginariam que seria possível reunir 60,4% dos 513 deputados com assento no plenário da Câmara ao redor da frigideira sem o aval do presidente da Casa. A hipótese de Paulo Guedes sair ileso da gordura quente é inexistente.
O ministro repetirá na Câmara argumentos expostos por seus advogados em petição entregue à Procuradoria-Geral da República. Alega-se que Guedes se afastou da gestão de sua offshore nas Ilhas Virgens Britânicas antes de virar ministro.
Entretanto, não há força viva no universo capaz de eliminar a maledicência segundo a qual a fortuna do ministro aumenta cada vez que os insucessos de sua gestão ou os arroubos de Bolsonaro puxam a cotação do dólar para o alto.
Quando tomou posse, em janeiro de 2019, Paulo Guedes disse que chegava para acabar com programas em que "piratas privados, burocratas corruptos e criaturas do pântano político se associaram contra o povo brasileiro."
Hoje, operando em modo eleitoral, o ministro perdeu o respeito do pedaço do setor privado avesso à pirataria. E recebe da turma do lodo um tratamento de criatura do pântano econômico.
Em maio de 2019, Guedes informou o que faria se os seus planos dessem errado: "Pego um avião e vou morar lá fora. Já tenho idade para me aposentar." Bem passado, o ministro continua no cargo. Mas seus dólares já foram morar lá fora. Aguardam pelo dia da aposentadoria.
Por Josias de Souza
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