O segredo para quem está numa corda bamba é continuar andando. Parar é perigoso. No interminável debate sobre a ineficácia da cloroquina, Marcelo Queiroga equilibra-se entre o diploma de médico e a insanidade anticientífica de Bolsonaro. E o ministro da Saúde decidiu parar. Fez isso ao avalizar a retirada da pauta de uma reunião da Conitec a análise de parecer que condena categoricamente o uso de cloroquina e outras poções mágicas da predileção de Bolsonaro no tratamento de Covid.
Conitec é a sigla que identifica a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS. Como o nome indica, esse órgão consultivo do Ministério da Saúde serve para recomendar ou desaconselhar a incorporação de remédios e procedimentos médicos na rede hospitalar do SUS. Os senadores da CPI enxergaram as digitais de Bolsonaro no sumiço do parecer anticloroquina que constava da pauta da Conitec. Concluiu-se que, com o auxílio de Queiroga, o Planalto agiu para evitar o fornecimento de material novo para o relatório final da CPI, a ser aprovado na semana que vem.
A CPI decidiu, então, reconvocar Queiroga. Esta quinta-feira seria o último dia de depoimentos na comissão. Mas os senadores resolveram esticar a agenda exclusivamente para inquirir Queiroga na segunda-feira. Será a terceira inquirição de Queiroga. Num de seus depoimentos anteriores, em maio, o ministro citou 27 vezes a Conitec para se esquivar de responder se concorda ou não com a defesa que Bolsonaro faz do tratamento precoce à base de cloroquina. Disse que havia solicitado ao órgão uma posição técnica sobre o tema. Alegou que, como ministro, teria de aguardar.
Pois na hora que a Conitec estava pronta para condenar, com um ano e meio de atraso, o uso do kit cloroquina, o assunto sumiu da pauta. Para desassossego de Bolsonaro, o parecer contrário ao uso dos seus remédios de estimação ganhou as manchetes. A CPI já não quer saber se o cardiologista Queiroga é contra ou a favor do uso da cloroquina. O que a comissão deseja esclarecer é de que borda da terra plana o ministro da Saúde planeja pular. Queiroga trocou a ciência pela ficção científica bolsonarista.
Por Josias de Souza
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