O anúncio feito por Donald Trump de que a Casa Branca vai sobretaxar o aço e o alumínio que Brasil e Argentina vendem para os Estados Unidos teve o efeito de uma paulada sobre as relações pessoais que Jair Bolsonaro alega manter com o presidente americano. Golpeado, Bolsonaro reagiu à afronta com respeito e compostura. Ou seja, estava completamente fora de si.
"Não vejo isso como retaliação", disse Bolsonaro, ainda meio zonzo. Ora, o pretexto é falso. Mas a retaliação é real. Trump, o amado de Bolsonaro, acusa o Brasil de promover, de caso pensado, uma desvalorização maciça do real. Se Bolsonaro reagisse como Bolsonaro, esfregaria na cara do inquilino da Casa Branca a expressão preferida do próprio Trump: "Isso é fake News, tá ok?".
Mas a ficha de Bolsonaro demora a cair. "Se for o caso, falo com o Trump, tenho um canal aberto com ele." O presidente brasileiro ainda não percebeu que a relação especial com a Casa Branca foi uma espécie de conto do vigário no qual ele caiu. Já entregou tudo a Trump: a base espacial de Alcântara, a liberação da catraca do Brasil para turistas americanos, a importação de uma cota extra de etanol americano e até amor verdadeiro. Em troca, só obteve pauladas.
O presidente americano pede aos brasileiros que façam como ele e se finjam de bobos para acreditar que o Brasil quis derrubar a cotação do real de propósito para se tornar mais competitivo no agronegócio, prejudicando os produtores americanos. Conversa fiada de um Trump que tenta adular o eleitorado interno num instante em que disputa uma reeleição difícil.
Bolsonaro já disse que ama Trump. Mas diplomacia não é coisa para amadores. Em condições normais, a relação pessoal de Bolsonaro com Trump deveria ser regulada pela Lei Maria da Penha. Mas na briga dos Estados Unidos com o Brasil quem apanha não é Bolsonaro, mas o interesse nacional.
Por Josias de Souza
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