O debate sobre a volta da prisão de condenados na segunda instância transformou Jair Bolsonaro no segundo desaparecido político do regime bolsonarista. O primeiro a desaparecer foi o policial militar Fabrício Queiroz, o "faz-tudo" da família Bolsonaro. Quando Fernando Bezerra, líder do governo no Senado, articula a coleta de assinaturas para retardar a votação do projeto sobre prisão, a plateia fica autorizada a suspeitar que há um sósia de Bolsonaro no Palácio do Planalto.
O silêncio de Bolsonaro é estridente. O Bolsonaro legítimo, todos sabem, elegeu-se enrolado na bandeira da moralidade. Eleito, esse Bolsonaro inflexível com os maus costumes, nomeou para o posto de ministro da Justiça Sergio Moro, ex-juiz da Lava Jato, um personagem que o presidente enxergava como símbolo nacional do combate à corrupção. De repente, o sósia do Planalto suja com o seu silêncio a imagem daquele Bolsonaro da campanha eleitoral.
Alguém se fazendo passar por Bolsonaro decerto nomeou Fernando Bezerra para o posto de líder. Trata-se, como se sabe, de um ex-apoiador de Lula, ex-ministro de Dilma Rousseff, cliente de caderneta da Lava Jato. Agora, Bezerra se associa ao PT na articulação para retardar a volta da prisão na segunda instância. Com o nó no pescoço, o líder do governo tenta afrouxar a corda.
O pior é que Bezerra não é o único a fugir do nó. Há na Esplanada ministros investigados e denunciados. Há até um ministro condenado por improbidade. Há na casa de Bolsonaro um filho, Flávio, sob suspeita de peculato e lavagem de dinheiro. O Bolsonaro legítimo jamais silenciaria diante de um quadro assim. Alguém precisa organizar uma incursão nos porões do Alvorada. O Bolsonaro genuíno, o autêntico, deve estar aprisionado em algum recanto sombrio do palácio residencial.
Por Josias de Souza
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