quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Fundo Eleitoral: Amigão de Queiroz ameaça jogar população contra Congresso



Em seu esforço contínuo para desmoralizar as instituições, Jair Bolsonaro ameaçou, nesta quarta, vetar o Fundo Eleitoral aprovado pelo Congresso: R$ 2 bilhões. É, se querem saber, uma merreca. "Como, Reinaldo, você acha pouco?" É uma mixaria. E isso nos diz, desde já, que o crime organizado e as igrejas vão alimentar o caixa dois país afora. A essa barbaridade nos conduz o moralismo estúpido. Uma conta simples nos revela a verdade, além da gritaria dos santos de pau oco.

Serão eleitos no ano que vem a bagatela de 5.568 prefeitos e 57.931 vereadores. Fôssemos dividir o total do fundo pelo número de eleitos, chegaríamos a R$ 31.496 por cabeça. Há quatro anos, candidataram-se 495.403 pessoas. Pela lógica, haverá um pouco mais neste 2020. Arredondemos para 500 mil: R$ 4 mil reais por cabeça. 

Notem que faço um indicador per capita para que se tenha uma ordem de grandeza. É claro que alguns partidos terão mais recursos do que outros; candidatos de cidades grandes gastarão mais do que os de pequenos municípios. Ocorre que, quando se fala em R$ 2 bilhões, não se tem noção do tamanho da demanda.

Oh, meus queridos! Eu acho que não deveria haver um miserável tostão de dinheiro do Orçamento em eleições. Numa das vezes em que resolveu legislar com os cotovelos, no entanto, uma maioria no Supremo proibiu a doação de empresas privadas. O grande sacerdote da patuscada foi Roberto Barroso — com apoio quase unânime da imprensa.

No país das piadas mal-ajambradas, proibiu-se a doação de empresas, à esteira do lava-jatismo, mas se permitiu que candidatos usem recursos próprios em campanha. Vamos ver: na hipótese de que sejam realmente próprios, então se tem uma legislação eleitoral que confere, de saída, um privilégio aos já privilegiados: os ricos. 

Mas nem dou grande peso a essa restrição porque duvido que os endinheirados torrem o próprio patrimônio em disputas eleitorais. Círculos de amigos e aliados saberão como fazer para transformar doações irregulares em recursos pessoais.

Ao fazer a ameaça, Bolsonaro perguntou a seguidores: "Vocês acham que eu devo vetar?" E citou nominalmente o PT e o PSL, seu antigo partido, como motivadores da disposição. Ou por outra: não disfarça que pensa em usar a prerrogativa para atingir adversários políticos. Não inova o próprio padrão, certo? 

Como ele deixou o PSL e resolveu criar um novo partido — que dificilmente estará apto a disputar a eleição no ano que vem —, então parece decidido, a seu modo, a zerar o jogo. Sim, um veto pode ser derrubado. Mas é claro que isso imporia um custo ao Congresso.

Insisto: com apenas R$ 2 bilhões de Fundo Eleitoral e sem doação de empresas, abrem-se as portas das eleições a toda sorte de financiamento irregular. E não há Justiça Eleitoral que consiga coibir abusos nessa dimensão. O risco maior — e o mal já está em curso — é o crime organizado ampliar a sua infiltração na política institucional. Caso um eventual veto seja mantido, tanto pior.

Que coisa! Bolsonaro foi eleito pela maioria dos que votaram, é verdade. Mas só segue presidente porque o Congresso tomou para si a responsabilidade de governar o país — ao menos nas questões que poderiam, de fato, levar o Brasil à breca e o presidente à lona. Não obstante, lá está o cara a jogar para a plateia, transformando em crime o financiamento do processo democrático. 

Há cretinos que realmente acreditam que se vence uma eleição com berreiro na Internet. Ou, para ser mais preciso: há inocentes que ignoram o custo das máquinas de propaganda que atuam nas redes.

Nunca, como hoje, houve tantos financiadores clandestinos de ações políticas — em período eleitoral ou fora dele. E boa parte dos beneficiados por essa clandestinidade vomitam seu moralismo fétido por aí. "Ah, mas está dando certo!" 

Sim! Os pilantras, por enquanto, não têm do que reclamar.

CUIDADO, PAI DE FLÁVIO E AMIGO DE QUEIROZ! 
O caso Flávio acabará fazendo com que Bolsonaro, cedo ou tarde, costeie o alambrado do crime de responsabilidade ou mesmo do crime comum. Na sua cabeça, trata-se de uma tentativa de derrubá-lo, o que o torna reativo. 

Deveria tratar melhor um Congresso que lhe deu tudo: até a continuidade do mandato — sem reforma da Previdência, já teria sido posto para correr. 

Nunca é um bom momento para o chefe do Executivo chutar o traseiro do Parlamento. E há momentos piores do que outros. 

O amigão de Fabrício Queiroz deveria ser mais prudente.

Por Reinaldo Azevedo

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