sábado, 15 de junho de 2024

Lula adota posição diante do projeto antiaborto: de cócoras



Lula revelou, finalmente, a posição que adotará diante do avanço na Câmara do projeto antiaborto: de cócoras. Ao ser questionado sobre o tema em Genebra, o presidente considerou a pergunta do repórter injusta. "Acabei de sair de uma palestra", disse Lula, antes de se agachar: "Deixa eu voltar para o Brasil e tomar pé da situação. Aí você pergunta e venho falar com você".

Na política, quem tem medo do adversário geralmente é controlado por ele. Na campanha de 2022, uma das armas do bolsonarismo foi a difusão da tese segundo a qual Lula legalizaria o aborto se retornasse ao Planalto. Deu-se algo diferente. A banda bolsonarista do Congresso quer transformar em homicídio modalidades de aborto legalizadas há 84 anos, inclusive em casos de estupro.

Durante a corrida presidencial, o medo de perder votos teve alguma utilidade para Lula. Levou-o a divulgar uma carta aos evangélicos. Nela, declarou ter "compromisso com a vida" e ser "pessoalmente contra o aborto". Antes, dissera que "é preciso transformar o aborto numa questão de saúde pública". Quando o medo evolui para a covardia, como agora, perde a serventia.

Autor do projeto que sugere criminalizar mulheres que, estupradas, interrompem a gravidez após a 22ª semana de gestação, o deputado-pastor Sóstenes Cavalcante sapateia sobre o temor alheio: "Será um bom teste para o Lula provar aos evangélicos se o que ele assinou na carta era verdade ou mentira." Se convertidas em homicidas, como sugere o deputado, as vítimas de estupro amargariam até 20 anos de cadeia, o dobro da pena imposta aos estupradores.

Considerando-se as suas consequências físicas, psíquicas e morais, o aborto é uma prática que deve ser evitada. É papel do Estado prover educação sexual, contraceptivos e suporte às mulheres que desejarem dar à luz.

Do mesmo modo, cabe ao Estado esclarecer que a interrupção da gravidez em casos de estupro, risco de morte para a mãe e anencefalia do feto é legal um direito previsto em lei no Brasil. A mulher que vivencia o drama precisa de suporte público, não da ameaça de ser trancafiada num calabouço. Podendo qualificar o debate, Lula e seus operadores desqualificam-se em silêncio.

Nenhum comentário: