Existem duas alternativas para para cada culpa: o álibi ou a confissão. Na bica da conclusão dos inquéritos da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe e outros crimes, Bolsonaro não dispõe de álibis. Tampouco cogita confessar.
Foi transformado pelas circunstâncias num inocente sui generis. Não podendo demonstrar sua hipotética isenção, apaixonou-se pela ideia do tumulto processual e pela fórmula da anistia.
Bolsonaro renovou com Arthur Lira a velha parceria do tipo uma mão suja a outra. O imperador dos deputados opera para que as paixões do ex-padroeiro do orçamento secreto sejam plenamente correspondidas.
Em troca do apoio dos tropa bolsonarista ao seu candidato à sucessão interna da Câmara, Lira leva à pauta, em regime de urgência, um projeto com DNA petista que proíbe a delação de investigados presos.
Especialistas sustentam que a novidade, se fosse aprovada, não seria capaz de atrasar o relógio para livrar o capitão da delação do tenente-coronel Mauro Cid. Bolsonaro dá de ombros. Sem uma defesa que fique em pé, anseia por conturbações que lhe permitam esgrimir tecnicalidades processuais.
De resto, avança na Câmara, com o aval tácito de Lira, um plano de uma anistia em dois tempos. Primeiro, o perdão para os "pobres coitados", como Bolsonaro se refere aos bagrinhos do 8 de janeiro. Mais adiante, suprema ambição, a reabilitação do mito inelegível para urnas de 2026.
No final de fevereiro, discursando para uma multidão na Avenida Paulista, Bolsonaro expôs a sua agenda. Além da anistia, disse que desejava "passar uma borracha no passado".
No início de maio, Valdemar Costa Neto, o dono do PL, incluiu a carta da anistia no barulho da sucessão às presidências da Câmara e do Senado. "Vamos colocar isso na mesa, sim", disse.
Parece conversa de doido. Mas no Brasil, um país em que o passado não passa de um futuro usado, convém prestar atenção. Há no Congresso malucos que não suportam a situação em que vivem e querem impor aos diferentes uma realidade de pesadelos.
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