terça-feira, 18 de junho de 2024

Governo está zonzo e Congresso desconecta-se da dura realidade



As contas nacionais estão em desalinho. O dólar ficou caro. A queda dos juros subiu no telhado. O dilúvio gaúcho puxa para baixo o PIB nacional. O primeiro semestre vai ficando no retrovisor sem que a segunda fase da reforma tributária tenha saído do lugar. A greve nas universidades e institutos federais já dura mais de dois meses. O ministro das Comunicações, indiciado por corrupção, continua no cargo.

Admita-se que o governo Lula, desarticulado politicamente e sem coesão na economia, é o principal responsável por tudo isso. Salvo no caso do dilúvio gaúcho, essa hipótese não é absurda. A oposição, podendo qualificar o debate, desqualifica-se priorizando no Congresso uma pauta obscurantista que desafia a paciência alheia e estimula a tensão social.

Poder-se-ia dizer que falta um projeto à oposição. Mas é bem pior do que isso. Majoritários no Legislativo, os adversários do governo desperdiçam sua supremacia numérica aprovando a urgência para um projeto antiaborto que, a pretexto de defender a vida, iguala ao homicídio modalidades de interrupção da gravidez previstas na legislação há 84 anos.

A reação negativa das ruas e das redes sociais levou Arthur Lira, o imperador da Câmara, a pisar no freio. Autor da proposta que pune mulheres e meninas que interrompem a gravidez decorrente de estupro na 22ª semana de gestação, o deputado-pastor Sóstenes Cavalcante já não tem tanta pressa. E Lula, que havia orientado seus operadores no Congresso a ignorar o avanço da "aberração" legislativa, reposiciona-se em cena com atraso.

Zonzo diante da necessidade de realizar cortes orçamentários, Lula se diz impressionado com a magnitude das renúncias fiscais —coisa de R$ 519 bilhões ao ano— e rertarda o manuseio da tesoura.

Pródigo na produção de despesas, o Congresso desconecta-se da realidade e finge que não é parte do problema enquanto ensaia a conversão do Brasil numa teocracia de viés iraniano. A plateia, atônita, exaspera-se com a percepção de que Brasília rodopia a esmo com um parafuso espanado.

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