Com atraso, Lula mandou anular o leilão realizado na quinta-feira da semana passada para importar arroz após o dilúvio que atingiu parte da safra do Rio Grande do Sul. A transação estava impregnada de suspeição. Potencializou-se a percepção segundo a qual a boa intenção na administração pública está separada da perversão por uma fronteira muito tênue.
A Conab, Companhia Nacional de Abastecimento, havia arrematado 263,7 mil toneladas de arroz. Negócio de R$ 1,31 bilhão. O produto seria importado por quatro empresas, três delas com aparência esquisita —uma fábrica de sorvetes, uma locadora de carros e um mercadinho especializado em queijos.
Além de cancelar a compra, o governo aceitou o pedido de demissão —eufemismo para exoneração— do secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller. Duas empresas de um chegado de Geller, Robson Luiz Almeida França, intermediaram a venda de 44% do arroz adquirido pela Conab. Outra empresa do mesmo personagem tinha como sócio Marcelo Geller, filho do secretário demissionário.
Havia sob a fumaça um negócio bilionário trançado sob regras permissivas. Compra-se no escuro. É preciso um incêndio para iluminar a precariedade e os vínculos tóxicos dos intermediários. Lula agiu apenas depois que a oposição já havia levado o caso ao TCU e à PGR. O cancelamento do leilão não elimina a necessidade de investigação. Houve inépcia ou desonestidade. Em qualquer hipótese, o contribuinte merece pratos limpos.
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