A fraude que transportou o Grupo Americanas das manchetes de economia para o noticiário policial tem todos os ingredientes de um escândalo estatal —da tentativa de empurrar a sujeira para baixo do tapete até o bordão "eu não sabia".
A presença dos rapazes da Polícia Federal nas ruas estimula a perspectiva de que ocorra neste caso algo de diferente da impunidade habitual. Mas ainda não há vestígio da chegada da apuração ao primeiro escalão da encrenca.
Por sorte, o Congresso ainda não conseguiu avacalhar o instituto da delação premiada. Dois ex-diretores forneceram em maio de 2023 os fios que a PF e a Procuradoria puxaram para chegar à meada podre. Os delatores conhecem a rapinagem da Americanas por dentro.
Além de 15 batidas de busca e apreensão, os agentes federais deveriam executar dois mandados de prisão. A ordem foi emitida com atraso. Os futuros detentos -Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas, e Anna Ramos Saicali, ex-diretora da companhia— estão fora do país.
Até aqui, prevaleceram o cinismo e a inépcia. A Comissão de Valores Mobiliários prometeu investigar o caso. Jamais acedeu a luz sobre os seus achados. Abriu-se uma CPI na Câmara. Os deputados não produziram senão autodesmoralização.
A fraude veio à luz em janeiro do ano passado. A empresa chamou pelo pseudônimo de "inconsistência contável" uma cratera de de mais de R$ 20 bilhões. Com dívida superior a R$ 40 bilhões, o grupo pediu água numa recuperação judicial.
Quando a maquiagem do balanço da Americanas desbotou, os acionistas de referência do grupo, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Sicupira, tidos como magos do capitalismo inzoneiro, fizeram circular uma nota com oito tópicos.
No primeiro tópico, lia-se o seguinte: "Jamais tivemos conhecimento..." Era uma versão pós moderna do velho "eu não sabia". A investigação da PF será incompleta caso não elucide o papel dos três bambambãs que frequentam o escândalo como espécies de sujeitos ocultos.
O prestígio do trio era visto como uma espécie de selo de qualidade para os negócios da Americanas. De repente, Lemann, Telles e Sicupira tomaram distância do empreendimento fazendo pose de navios que abandonam os ratos. É imperioso saber que papel desempenharam os três mosqueteiros do mercado.
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