O Congresso Nacional é uma coisa, um botequim de quinta categoria é outra coisa. Num ambiente, as pendências são dissolvidas com saliva. Noutro, as desavenças são potencializadas pelo álcool e costumam evoluir para a pancadaria. Pois o Conselho de Ética da Câmara viveu nesta quarta-feira uma apoteose do despudor, capaz de converter o boteco mais desqualificado em templo do decoro.
Durante a sessão, foi ao arquivo uma representação em que o PL acusou o deputado André Janones da prática da rachadinha. Coisa gravada e investigada pela PF, sob a supervisão do Supremo Tribunal Federal. Seguiu-se ao arquivamento uma discussão típica de bêbados, com lulistas e bolsonaristas se xingando e ameaçando quebrar a cara uns dos outros.
Aliados de Bolsonaro, cuja família tornou-se uma espécie de holding da rachadinha, Nikolas Ferreira e Zé Trovão partiram para cima do neorachador Janones, estrela da campanha digital de Lula em 2022. A certa altura, Janones convidou Nikolas para resolver as diferenças "lá fora", no braço. A dupla foi contida por seguranças da Câmara e pela turma do "deixa-disso".
Coube a Guilherme Boulos, candidato de Lula à prefeitura de São Paulo a função de relator da representação do PL, a legenda de Bolsonaro. Na contramão do histórico do seu partido, o PSOL, Boulos defendeu o arquivamento. Sua posição prevaleceu por 12 votos a 5. Sem mandato, Pablo Marçal, regra três do bolsonarismo na corrida à prefeitura paulistana, filmava tudo com o celular. Antevendo o que está por vir, Boulos chamou-o de "coach picareta".
Num bar, os brigões pagam do próprio bolso a bebida que entorta a prosa. No Conselho de Ética da Câmara, é o contribuinte brasileiro quem financia tudo —a montagem do palco, a iluminação, o som, o cafezinho, os assessores, os seguranças... Tudo!
Nesses tempos de ulrapolarização, não se pode esperar muito da política. Mas quem paga a bilheteria merecia um um circo menos mambembe, com boas frases, insultos mais elaborados, ironias refinadas... Qualquer coisa que justificasse o custo.
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