Neymar com Flávio Bolsonaro, o amigo. A coisa ficou tão feia que o senador decidiu dar uma entrevista para afirmar que não está levando bolsa do jogador. |
Os progressistas dos mais diversos matizes e aqueles que ainda se apegam ao pacto civilizatório hão de concordar: a extrema-direita tem improvisado cada vez menos e agido com método cada vez mais.
O bom senso ainda há de ser grato, por exemplo, à atriz Luana Piovani e até ao machismo etarista e meio cafajeste de Neymar por terem transformado a tal "PEC das Praias" um tema de apelo popular.
Eis aí mais um texto tirado da gaveta e que, se aprovado, dará curso à mais espetacular especulação imobiliária de que o país terá notícia na história.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), relator no Senado, viu-se compelido a dar uma entrevista ao Globo — que integra a tal "mídia", tão odiada pelos "patriotas" — para anunciar que não está levando bola de Neymar. Poderia ter sido o ponto máximo do constrangimento. Mas ainda não era
Numa conversa bastante cordata, em que ele teve a chance de cortar várias bolas, o homem se enrolou e evidenciou: trata-se mesmo de um esforço para retirar pobres da orla e pôr os ricos em seu lugar.
Nas palavras do glorioso senador:
"Sim, há uma lógica de estimular o turismo e investimentos. Por que o cara não bota dinheiro aqui hoje? Por causa da insegurança jurídica, legislação ambiental, um monte de coisa. A PEC vai mudar uma coisa específica, que é o direito de propriedade, tirando a mediação da Secretaria de Patrimônio da União (SPU). Quem quiser comprar um imóvel dessas áreas, tratará diretamente com o proprietário, sem precisar da União."
Entendi. No país que assistiu à desgraça do Rio Grande do Sul, este homem notório acha que leis ambientais atrapalham.
E ele disse o que quer:
"Todo mundo gosta de ir a um resort em Cancún, em Miami, na Espanha, na Grécia. Queremos fazer um troço pequeno no Brasil para tentar estimular empreendimentos. Aí vem uma chiadeira danada com argumentos mentirosos. Infelizmente, para fazer empreendimento em Angra, Salvador, qualquer lugar de Alagoas, seguirá existindo toda uma burocracia ambiental."
De novo, o meio ambiente como inimigo. E, convenham, né?, "todo mundo gosta de ir a Cancún, Miami, Espanha e Grécia". Todo mundo!!!
Enquanto o país dormia distraído, até os bolsonaristas, Flávio encontrou as minas do rei Salomão. E, desta feita, não eram uma ficção. Ainda que a aberração prosperasse, a inconstitucionalidade me parece patente. Como se nota, o "relator" não esconde a sua indisposição com o meio ambiente, bem protegido pela Carta, e a sua, digamos, fissura pelos negócios.
E nos ocupávamos, então, dessa esperteza quando veio a outra: resgatar o PL de 2016 que, na esperança vã dos afoitos, poderia anular a delação de Mauro Cid. Leiam o post específico a respeito.
Os valentes não dormem no ponto. De um modo ou de outro, sempre golpistas. É preciso afinar os instrumentos para enfrenta-los com mais eficiência.
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