Bolsonaro, Silas Malafaia e Michelle: pastor e mulher ajudam a alimentar entre fanáticos a esperança vã de que ex-presidente pode recuperar a elegibilidade para 2026 |
Tirar a proposta de Wadih Damous da geladeira é parte do esforço da extrema-direita para tentar livrar a cara de um golpista? Tudo indica que sim.
A coisa vem à luz no dia em que a presidente da CCJ da Câmara, Caroline de Toni (PL-SC), indica Rodrigo Valadares (União Brasil-SE), um bolsonarista-raiz, para ser relator do PL da anistia aos golpistas — anistia que, note-se, ainda que aprovada, terá sua inconstitucionalidade declarada pelo STF.
Fica, com efeito, difícil sustentar que a proposta de Damous foi revivificada do nada, na base do puro estalo imotivado. Mas para quê?
Vejamos o contexto.
O pastor Silas Malafaia concedeu entrevista ao Globo atacando o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) porque este estaria investindo na própria candidatura e mantendo diálogo "até" com Alexandre de Moraes, em vez de lutar para resgar a elegibilidade Bolsonaro.
Michelle, a pensadora, falando a uma página bolsonarista, disse que o candidato em 2026 é mesmo o seu "esposo", como dizem por lá. Numa alusão nada sutil a Tarcísio, afirmou:
"Tem alguém - ou 'alguéns' - muito interessado em acelerar o processo de apresentação de nomes de prováveis presidenciáveis. Parece até uma tentativa de diminuir a importância do nome do meu marido no cenário político nacional".
Bolsonaro não desautorizou nem Malafaia nem Michelle.
Pessoas severamente enroscas, como é caso do ex-presidente golpista, alimentam, muitas vezes, esperanças vãs como tática de sobrevivência. Trata-se também de uma escolha política.
O bolsonarismo depende da mística de um "super-homem" para existir. Não se concede por acaso a medalha "Imbrochável, Imorrível e Incomível". Os fanáticos se alimentam da crença de que ninguém impõe limites a seu super-herói. É uma forma de manter unidos os fiéis.
É claro que Tarcísio é parte dessa equação e também faz o jogo. Leva os cutucões do entorno de Bolsonaro como um preço a pagar para atrair a maior parte do eleitorado fiel ao "Mito" numa eventual disputa à Presidência — ou mesmo para tentar renovar seu mandato em São Paulo.
Afinal, o governador sabe que Bolsonaro sabe que ele, Tarcísio, ainda é a melhor chance que o bolsonarismo tem de sobreviver, hipótese em que teria de ser um pouco menos "puro" para tentar ser mais "amplo".
Os fanáticos para valer não conseguem entender esse jogo, e Bolsonaro e os seus próximos os estimulam porque são eles a inflamar a torcida, garantindo a sua sobrevivência política.
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