quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Resposta a Cármen prova que há um arranjo de arruaceiros, não um governo



Jair Bolsonaro está destruindo o que havia de positivo no sistema de Saúde no Brasil. Como reconheceu reportagem do New York Times, o país tinha um sistema de vacinação que era exemplo para o mundo. Mas sabem como é... O homem prometeu solenemente que havia se tornado presidente mais para desconstruir coisas do que para construir. A promessa está sendo cumprida à risca, não é mesmo?

Se o Supremo não resolver tomar as rédeas da situação, dentro do que lhe reserva a Constituição, a vaca vai para o brejo. Esta terça acenou de novo com a casa dos mil mortos diários de Covid-19. E daí? No mesmo dia, o chefe da nação promoveu aglomeração de pessoas sem máscara no Ceagesp, em São Paulo. Bolsonaro não teme o decoro. Ele só teme a Justiça quando esta tem a coragem de se mostrar.

Pois bem. Cármen Lúcia, ministra do Supremo, havia dado 24 horas para o GSI (Gabinete da Segurança Institucional) e para a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) se explicar sobre dois relatórios atribuídos à agência que instruem os advogados de defesa do senador Flávio Bolsonaro no caso da chamada "rachadinha". Vocês sabem: esse é um apelido simpático criado pela imprensa para definir peculato, que é roubo de dinheiro público.

Pois bem: algo fabuloso se deu. Tanto Alexandre Ramagem, chefe da Abin, como Augusto Heleno, ministro do GSI — órgão ao qual a agência é subordinada — negaram, obviamente, que os documentos tenham sido produzidos. Se o admitissem, seria como se pusessem a assinatura num crime. Afinal de contas, tratar-se-ia do seguinte: órgãos do Estado brasileiro estariam atuando para livrar a cara do senador num assunto que, para efeitos penais, é privado. Só não se pode dizer que se trata de um assunto que concerne apenas à vida privada porque, reitere-se, estamos falando de roubo de dinheiro público. Por isso mesmo, o órgão estatal não pode patrocinar ou instruir a defesa de Flávio.

Não, querido leitor, o "fabuloso" não é negar. Como deixo claro, se admitissem a ação, estariam admitindo um crime e, portanto, não poderiam mais permanecer em seus respectivos cargos.

Mas, ora vejam, agora eles dizem que, de fato, houve uma reunião no Palácio do Planalto para tratar do assunto. E isso também a imprensa havia noticiado. Participaram da dita-cuja o próprio presidente da República, Augusto Heleno, Ramagem e os advogados de defesa do senador. E, por óbvio, tanto o chefe do GSI como o do Abin haviam negado que tal encontro houvesse acontecido.

É do balacobaco.

A imprensa noticia: "Houve o encontro".

Eles reagem: "É mentira!"

A imprensa noticia: "A Abin fez dois relatórios".

Eles reagem: "É mentira! Houve apenas o encontro".

Dada a sequência, cabe a você decidir se confia no que informa o jornalismo profissional ou nas palavras de Augusto Heleno e Alexandre Ramagem.

Heleno e Ramagem querem agora que a Época apresente os relatórios para que possam tomar providências:
"Nesse sentido, encareço ao STF a citação do jornalista que detém os dados do suposto documento produzido pela ABIN para que forneça os relatórios citados a fim de que seja possível a adoção das eventuais medidas cabíveis".

E sobre a reunião que antes negavam e agora admitem? Dizem isto:
"A reunião realizada é completamente regular, por estar dentro das competências atribuídas legalmente ao GSI, órgão do qual a ABIN faz parte. Como não foi constatada violação de segurança institucional, não houve nenhuma providência decorrente do encontro".

Se era regular, por que negavam de pé juntos que tivesse acontecido?

Parece que se trata agora de admitir o menos para eventualmente ocultar o mais.

Se vier a público algo ainda pior do que os tais relatórios, então dirão: "Sim, houve os relatórios. Mas eram completamente regulares".

Isso não é um governo, mas um arranjo de arruaceiros.

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