Admita-se que há três grandes problemas sobre a mesa: a ruína fiscal, o desemprego e a vacina. Bolsonaro não tem nada de muito relevante a dizer sobre nenhum desses temas. Em vez de governar os problemas, é governado por eles. Gasta o tempo livre de que dispõe distribuindo culpas e governando as redes sociais. Despeja nelas polêmicas e aglomerações.
Na visão de Bolsonaro, o desemprego é culpa de governadores e prefeitos, a "turma do fique em casa". A ruína fiscal é culpa do vírus, que forçou o governo a exercitar sua generosidade, distribuindo auxílio emergencial aos pobres e socorro financeiro a empresas, estados e municípios. A falta de vacinas é culpa dos fabricantes, que desdenham de um mercado vasto como brasileiro.
Se houvesse presidente em Brasília, ele estaria empenhado em recolocar nos trilhos a pauta de reformas econômicas. Isso sinalizaria apreço pela responsabilidade fiscal, que atrairia investimentos, que criariam empregos. Combinando-se tudo isso com a vacinação, o Brasil se encaminharia para algo mais parecido com a normalidade.
Neste final de ano, com suas obsessões bem encaminhadas, Bolsonaro foi à praia. Hospedou-se à custa do erário no Forte dos Andradas, uma confortável hospedaria militar, assentada no Guarujá (SP). Dispõe de praia privativa, com 400 metros de extensão. Mas o capitão e o coronavírus não gostam de privacidade.
Bolsonaro precisa ver e, sobretudo, ser visto. O vírus depende das aglomerações para infectar. Estabeleceu-se uma parceria. O capitão trocou seus 400 metros de intimidade por uma aparição na Praia Grande. O corona, presença invisível, serviu-se das cenas produzidas por seu aliado infeccioso.
Por Josias de Souza
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