Com um hirto 't' no início, outro 't' no meio, um 'or' gutural seguido de um 'ur' que evoca dor, TORTURA é uma palavra de cabelo em pé, assustada da própria significação. Desafiada, a ditadura instituída em 1964 converteu a tortura e a execução de adversários em política de estado. Debochar e duvidar dos suplícios impostos à torturada Dilma Rousseff, como fez Jair Bolsonaro, é um ultraje típico do ser desumano em que o personagem se converte sempre que lhe convém.
Há método na indignidade de Bolsonaro. Ele carrega afrontas no bolso desde os tempos de deputado. A diferença é que instilava ódio e desinformação em comícios realizados no plenário da Câmara. Agora, dispõe da tribuna especial que a Presidência da República oferece. Algo que o ex-presidente americano Theodore Roosevelt chamou de bully pulpit —púlpito formidável, numa tradução livre.
De um bom presidente, dizia Roosevelt, espera-se que aproveite a vitrine privilegiada para irradiar confiança e bons exemplos. Bolsonaro faz o oposto. Ele usa o cargo como palanque para envenenar o cotidiano. Produz insegurança e exibe práticas deletérias.
No momento, Bolsonaro tortura os fatos que enodoam o regime de 1964 para retirar de foco a realidade atroz de 2020, com tudo o que o ano evoca: do negacionismo à falta de vacinas. O capitão ainda não notou. Mas a tática é inútil. Negar fatos históricos como a ditadura e a tortura é difícil. Fingir que a inépcia governamental não tem nada a ver com a falta de vacinas é tão impossível quanto esconder mais de 190 mil cadáveres.
Por Josias de Souza
Nenhum comentário:
Postar um comentário