O presidente Jair Bolsonaro, durante manifestação contra o Congresso e a favor da intervencao militar em frente ao Quartel General do Exército em Brasília Foto: GABRIELA BILO/ ESTADAO |
Em mais de um depoimento tomado no inquérito dos atos antidemocráticos, a Polícia Federal questionou se o filho 02 do presidente, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), e integrantes do governo estavam por trás dos canais do YouTube que disseminaram discurso antidemocrático. Os investigadores procuraram saber, também, se os proprietários desses canais repassaram recursos de monetização a terceiros e se atuam como “laranjas”. As respostas foram negativas.
Também foram feitos questionamentos sobre eventual “dissimulação da identidade” e criação de perfil em nome de terceiros “para qualquer fim”. As perguntas indicam que a PF busca comprovar se os milhões arrecadados pela “rede do ódio”, por meio dos vídeos que divulga no YouTube, são divididos com servidores do governo e agentes políticos, que alimentam esses canais com vídeos e informações de dentro do Palácio do Planalto.
O inquérito que apura o caso em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF), que reúne mais de mil páginas sigilosas, mostra que o apoio do governo a canais no YouTube investigados vai além do acesso privilegiado ao presidente Jair Bolsonaro e das orientações trocadas com funcionários da Presidência da República por aplicativo de mensagem. O inquérito revela que o “gabinete do ódio” garante musculatura à rede de sites bolsonaristas.
Depoimentos coletados pela Polícia Federal indicam que os donos dos canais demonstram interesse pelo acesso aos “bastidores do poder”. Isso ajuda a fidelizar o público e aumentar a audiência, além do lucro das páginas. As próprias transmissões ao vivo de Bolsonaro nas redes sociais, executadas com as imagens recebidas de forma privilegiada pela EBC, ajudam a atrair milhares de internautas e impulsionam os lucros das plataformas.
Segunda franquia mais rentável entre os canais bolsonaristas, a Folha Política tinha 1,65 milhão de inscritos no início de março. Hoje está com 2,19 milhões, um salto de 32%. Proprietário do canal, Ernani Fernandes Barbosa Neto disse à PF ter faturado entre R$ 50 mil e R$ 100 mil por mês.
Ao lado da mulher, Thais Raposo Chaves, ele opera os negócios, que incluem uma espécie de incubadora de novos perfis. A dupla também é dona da Novo Brasil Empreendimentos e da Raposo Fernandes Marketing Digital, que já prestaram serviços de marketing a políticos alinhados a Bolsonaro.
Antes do sucesso no YouTube, o casal teve 68 páginas e 43 contas derrubadas pelo Facebook, durante a eleição presidencial de 2018. As páginas faziam parte de uma rede de disseminação de desinformação, que violou políticas de autenticidade ao criar endereços falsos e múltiplas contas.
Bolsonaristas contaram com ajuda da EBC e da TV Brasil
Já o Foco do Brasil contou com a ajuda de um funcionário da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) para obter, como se fosse uma emissora de televisão, as imagens de Bolsonaro e de eventos oficiais gerados pelo satélite Amazonas 3.
Anderson Rossi disse à PF que “recebeu as informações técnicas, de como acessar o satélite”, do gerente de operações da rede pública, identificado por ele apenas como “Bill”. Rossi também relatou ter recebido, por meio de outro funcionário da TV Brasil, as senhas de acesso às imagens feitas pela emissora pública.
Com a transmissão em tempo real de imagens do presidente, Rossi ampliou a base de inscritos do canal, principalmente em março, abril, maio e junho, quando se multiplicaram as manifestações de apoiadores bolsonaristas pedindo o fechamento do Congresso, intervenção militar, com ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Procurada pela reportagem, a EBC disse, em nota, que o Satélite Amazonas 3 é um canal de serviço disponível de forma aberta aos veículos de imprensa. A empresa pública, no entanto, não deu acesso à lista de canais do YouTube que utilizam o satélite.
No Estadão
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