Se o Supremo Tribunal Federal não ficar atento e não tomar as rédeas da legalidade, o governo Bolsonaro vai empurrar a vacinação com a barriga. E muitos milhares ainda vão morrer em razão da incúria e da loucura dessa gente. E assim será por um conjunto de fatores.
Em primeiro lugar, há a clara disposição de sabotar a vacina desenvolvida pela parceria Instituto Butantan-Sinovac por razões puramente políticas. O presidente está preocupado com a sua reeleição, não com a imunização da população. Em segundo, há a psicopatia que toma conta do Palácio do Planalto, cujos ocupantes consideram que a pandemia não é coisa grave. Sinto o fedor dos matemáticos de cadáveres daqui.
Afinal, chegaremos ao fim do ano com pouco menos de 0,1% de mortos por Covid-19. Na cabeça dessa gente homicida, se 99,9% das pessoas ainda estão vivas, por que tanto alarde? Este governo pode conviver muito bem com 200 mil mortos. Multiplicasse isso por 10, ainda sobrariam 99% de vivos. Não está bom? Percentualmente falando, trata-se de uma minoria extrema. Bolsonaro não recitaria, como John Donne: "A morte de cada homem me diminui". Ele tem razões insanas para acreditar que a morte de quase 200 mil elevaram a sua popularidade. Obviamente, na raiz da melhora da avaliação está o auxílio emergencial. Ele não precisa de motivos para seu negacionismo estúpido. Basta o pretexto.
Não é precisamente essa conta que está na raiz do pensamento delinquente de Bolsonaro, que age — e gostaria que todos agissem — como se a pandemia não existisse? É evidente que ele não vai vocalizar o que pensa, mas há uma só e inescapável conclusão sobre a sua convicção nesse caso.
Por ele, o mundo teria seguido normalmente seu curso, muitos milhões teriam morrido, mas a tal imunização do rebanho já teria chegado. E a economia estaria funcionando a todo vapor. Ocorre que o morticínio em massa decorrente do negacionismo teria levado o mundo a um cataclismo. E daí? Um partidário da morte profilática não se impressiona, pois, com número de cadáveres. Ele sempre achará pouco. Como não se vai realizar a distopia que imagina, então não pode ser confrontado com o desastre que sua tese provocaria.
Pausa para uma outra especulação: observem que é também essa variante da necrofilia que move a política de segurança pública do governo, que disfarça sua obsessão — bem remunerada? — pela morte com uma regulamentação que eleva exponencialmente a posse e a circulação de armas sob o pretexto da autodefesa.
O STF tem de ter claro que virou a barreira de contenção do morticínio e da necropolítica.
Por Reinaldo Azevedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário