terça-feira, 11 de julho de 2023

PL já discute o prazo de validade de Bolsonaro



Bolsonaro elevou as chamas de sua autocombustão ao se opor na semana passada à aprovação de uma reforma tributária que havia desprezado durante os quatro anos de sua Presidência. O esforço para recompor rapidamente sua relação com Tarcísio de Freitas depois de ter jogado o governador paulista no moedor bolsonarista de reputações nas redes sociais indica que o capitão pode ter percebido o tamanho do seu erro. Era tarde. O circo do Partido Liberal pegou fogo num grupo de WhatsApp. As labaredas levaram a legenda de Valdemar Costa Neto a iniciar um debate interno sobre o prazo de validade de Bolsonaro.

Enquanto Bolsonaro trocava afagos com Tarcísio, seus partidários intercambiavam sopapos no Zap. Deputados da banda bolsonarista e colegas da ala governista do PL ofendiam-se uns aos outros no grupo partidário. Numa decisão de fazer inveja a Alexandre de Moraes, o partido silenciou as mensagens num instante que os contendores instavam-se mutuamente a abandonar a legenda. A cúpula do PL descobre que o Bolsonaro inelegível é idêntico ao personagem que se tornou o principal cabo eleitoral de Lula em 2022.

Durante o seu governo, Bolsonaro especializou-se na produção de crises. Brigou com governadores, com magistrados, com seus ministros e até com as vacinas. Implodiu o PSL de Luciano Bivar, hoje fundido ao DEM no União Brasil. Mestre das maquinações políticas, Valdemar Costa Neto sabia dos riscos que corria quando recepcionou Bolsonaro no seu Partido Liberal depois de ter sido chamado por ele de " corrupto" e "condenado".

Valdemar cogitou retornar aos braços de Lula, sob cujo governo amargou uma condenação de sete anos —pena cumprida parte na cadeia e outra parte arrastando uma tornozeleira eletrônica. Optou por Bolsonaro a despeito dos riscos. Intuiu que a campanha de seus candidatos ao Congresso seria vitaminada pela mistura do bolsonarismo com as verbas do governo. Elegeu a maior bancada da Câmara, engordando a participação do PL no rateio do fundo partidário.

Com as arcas cheias, Valdemar atribuiu à derrota de Bolsonaro na corrida presidencial importância secundária. Autorizou um pedaço da legenda a embarcar na canoa de Lula. Dava de barato desde o início do ano que a derrota de Bolsonaro seria adornada com o título de inelegível. Pendurou o perdedor e sua mulher na folha do partido. E passou a planejar o usufruto partidário da religiosidade de Michelle e da pose de vítima do marido dela.

De repente, Valdemar e outros caciques do PL passaram a ruminar a suspeita de que Bolsonaro vire uma encrenca incontornável antes que seu potencial como "cabo eleitoral de luxo" possa ser testado em 2024. A cúpula do PL receia que a cadeia talvez chegue para Bolsonaro antes da campanha municipal.

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