quinta-feira, 20 de julho de 2023

Michelle de olho na Presidência


Amo vê-la sem prótese, gente', disse Michelle ao pedir à deputada federal Amália Barros que tirasse o olho

Esposa, mãe, voluntária e serva de Deus. Honra, Glória, Força e Poder ao Rei Jesus. Assim Michelle Bolsonaro se descreve no Instagram. Ela é a mais legítima representante da extrema direita evangélica no Brasil. A mais clara candidata a suceder o “fascismo de espetáculo” protagonizado por seu marido durante quatro anos. Michelle mandou a vice-presidente do PL Mulher, deputada federal Amália Barros, retirar o olho de vidro em público. Como se fosse uma bolinha de gude, guardou o olho no bolso, sem higiene alguma.

“Uma mulher que faz acontecer”, disse a ex-primeira-dama, diante de Amália. “Mas eu quero você sem prótese. Eu amo vê-la sem prótese, gente. Deixa eu segurar seu olho”. A deputada respondeu: “Ela sempre faz isso comigo e eu ainda não aprendi a vir sem prótese”. Por mais que o teatrinho tosco possa ter sido combinado previamente entre as amigas, a cena chocou a quem tem dois olhos ou a quem tem um olho só. Se até a Janaina Paschoal, que considera Bolsonaro um paladino da democracia, achou constrangedor, deve ter sido muito grave mesmo.

Não desmereço a força eleitoral de Michelle. Acho essa mulher extremamente perigosa num Brasil ainda fraturado à metade. Um país que menosprezou o discurso reacionário de um capitão destrambelhado. Um país que perdeu a chance de cassar o mandato de Bolsonaro no dia em que ele elogiou publicamente, na Câmara, o coronel torturador Brilhante Ustra. Escutei de pessoas que eu julgava inteligentes, em 2018, elogios ao populismo de mortadela do Jair. Como se fosse um cara sagaz, do povão, meio desequilibrado porém fiel a valores da família e da pátria.

Isso não acabou. O silêncio repentino da extrema direita, recolhida após a condenação de seu mentor máximo, não significa arrependimento. Michelle segue a cartilha do marido ao criar factoides ou bizarrices. Seu marido tirou a máscara de uma criança em plena pandemia. Ela mandou a deputada retirar o olho. Sob o pretexto de naturalizar deficiências. Amo isso, gente!

Michelle sacrificou as carpas no lago do Alvorada para distribuir moedas à Vila do Pequenino Jesus. Fica passando roupa no Instagram para conquistar as donas de casa. Posa de defensora de pobres, oprimidos e portadores de deficiência. Não perde chance de desprezar religiões que não sejam a sua, especialmente as de matriz africana, como o candomblé. Usa salmos para se comunicar. Não é segredo que tem ambições e deseja se tornar presidente, já que o marido se tornou inelegível.

Alguém realmente acredita que expor deficiências dos outros em palcos é uma homenagem? Amália Barros justificou Michelle, dizendo que a relação entre as duas é de intimidade e não se constrangeu. Mas é inadmissível a falta de pudor de Michelle, ao tirar proveito da confiança para se promover num ato político. Tire a dentadura, vou guardar no bolso, olha que linda ela é sem dentes! Suba a meu palanque! Como se a extrema direita não fosse sustentada por preconceitos. Homofobia, xenofobia, misoginia, racismo.

Na entrevista a Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, o ex-presidente afirma que tem uma “bala de prata” para 2026. Não diz qual é. Fala que Michelle “ainda não está pronta” para ser presidente, mas é um excelente cabo eleitoral. O Brasil, ele elogia como um país onde dá para “falar besteira” à vontade. E onde se pode “contar piada de tudo que se possa imaginar”. Michelle confessou “o desejo no coração de chegar à Presidência”. E se vangloriou: “Eu já fazia política pública desde os 14 anos sem saber, como voluntária na igreja”.

Tenho pesadelos com o futuro. Porque Michelle seria “o fascismo com face humana”. O mais insidioso de todos, que explora a fé, sempre em nome de Deus. Olho vivo, minha gente.

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