quinta-feira, 13 de julho de 2023

Nem democracia é relativa nem oposição é responsável



Se não existe “democracia relativa”, selo aplicado por Lula à ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela, também não existe “oposição responsável”, como agora se apresenta o Centrão ou a maior parte dele para justificar sua adesão ao governo do PT.

À época da ditadura militar de 64, o general Ernesto Geisel, no exercício da Presidência, falou uma vez em “democracia relativa”. Alvo de críticas, nunca mais falou. Mas nem deu o dito pelo não dito, nem deixou de achar que a democracia é relativa.

Lula foi aconselhado a não mais se referir à democracia como algo relativo. Mas acha que ela é relativa, porque existem vários tipos de democracia no mundo, assim como vários tipos de ditaduras. A da Venezuela, por exemplo, é diferente da ditadura de Cuba.

Geisel é também o autor da expressão “abertura lenta e gradual”. Com isso queria dizer que a volta à democracia só poderia ser feita de maneira lenta, aos poucos. Era também o que pensava o general Golbery do Couto e Silva, chefe da Casa Civil do governo Geisel.

O sucessor de Geisel, o general João Baptista Figueiredo, tocou a “abertura lenta e gradual” ao seu modo, prometendo prender e arrebentar quem fosse contra ela. Golbery deixou o governo quando Figueiredo borrou-se ante a linha dura do regime.

Por ambicionar cargos e outras coisitas, por julgar que Bolsonaro não tem mais salvação, por não sentir-se confortável fazendo oposição, o Centrão está com um pé dentro do governo Lula e o outro quase. A ala moderada do PT aprecia, a radical se assusta.

O mais respeitado e famoso advogado de presos políticos durante as ditaduras de Getúlio Vargas (1930-1945), e dos militares (1964-1985), Heráclito Fontoura Sobral Pinto, irritou-se ao ouvir em 1968 a expressão “democracia brasileira”. E disparou:

“À brasileira, só peru”.

Democracia é democracia, e ponto. Oposição é oposição, e estamos conversados.

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