Fernando Haddad conduz os negócios da Fazenda com requinte político. Para destravar a reforma tributária na Câmara, deu num nó nos miolos do capitão, acertando-se com o bolsonarismo light do governador paulista Tarcísio de Freitas. Para demarcar a segunda etapa da reforma, que mexerá com o patrimônio e a renda, Haddad fez um risco no chão para demarcar a diferença entre a sua gestão e a gerência do antigo Posto Ipiranga.
Em entrevista à repórter Mônica Bergamo, Haddad admitiu que o pedaço da sociedade que brinca de esconde-esconde com a Receita Federal torcerá o nariz para o que está por vir. "Você acha que um brasileiro que é rico, tem residência no Brasil e dinheiro fora, não tem que pagar pelo rendimento de um fundo offshore pessoal?", indagou Haddad. "Por quê? Qual é o sentido?". Com suas interrogações, o ministro beliscou o calcanhar de vidro de Paulo Guedes sem tocá-lo.
Em 2014, Guedes colocou o equivalente a cerca de R$ 50 milhões numa empresa offshore no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas. São dois os objetivos de quem procede assim. O primeiro é manter o patrimônio longe da curiosidade alheia e a salvo de turbulências domésticas. O segundo propósito é fugir do Fisco. Sob Bolsonaro, Guedes passou quatro anos gerindo as finanças nacionais. Cada vez que o Brasil piorava, o patrimônio abrigado na sua offshore melhorava.
Abstendo-se de citar Paulo Guedes, Haddad traçou uma analogia. Lembrou que um brasileiro com salário superior a R$ 2.640 paga imposto. Realçou que alguém que ganha R$ 2,640 milhões pode ficar isento. Perguntou: "Como um país com tanta desigualdade isenta o 1% mais rico da população? Qual vai ser o dia em que nós vamos olhar para o problema e resolvê-lo?" A questão é que o enfrentamento do status quo financeiro exige planejamento e método. Do contrário, Haddad arrisca-se a atacar o status sem conseguir mexer no quo.
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