terça-feira, 18 de julho de 2023

Em Bruxelas, Lula tira o pé da realidade paralela de Maduro



Lula ainda não vê uma solução para o drama da Venezuela. Mas pelo menos já emite sinais de que começou a enxergar o problema. Em reunião convocada pelo presidente francês Emmanuel Macron, em Bruxelas, Lula afirmou que "só os venezuelanos podem resolver o problema do país".

Rendido à evidência de que não há uma solução mágica à vista, Lula evitou tirar coelhos do chapéu. Fez melhor: parou de tirar gambás da cartola. Num surto de bom senso, declarou que a Venezuela precisa realizar em 2024 eleição presidencial sob regras que sejam aceitas por todos.

Sumiu de cena aquele Lula que havia declarado que a ditadura venezuelana não passa de "narrativa" de adversários. Ou que "o conceito de democracia é relativo". Surgiu em Bruxelas um Lula que pôde ser ouvido sem sobressaltos pela representante do ditador Nicolás Maduro, a vice-presidente venezuelana Delcy Rodriguez e pelo representante da oposição Gerardo Blyde.

A reunião ocorreu à margem da cúpula entre países da Europa, da América Latina e do Caribe. Participaram também da conversa Gustavo Petro e Alberto Fernández, presidentes da Colômbia e da Argentina. Petro enfiou o dedo na ferida ao mencionar o expurgo de opositores na Venezuela.

Hoje, em plena pré-campanha à sucessão de 2024, os principais candidatos oposicionistas estão inabilitados. Entre eles Maria Corina Machado e Henrique Capriles. Dias atrás, em reunião do Mercosul, Lula disse que desconhecia os detalhes do expurgo de Corina, favorita à obtenção da vaga de presidenciável da oposição. Em Bruxelas, silenciou.

Sem a suspensão dos vetos impostos à oposiçao, a ditadura venezuelana oferecerá ao mundo mais um simulacro de eleição. Ao perceber que não tinha nada de proveitoso a dizer sobre as inabilitações hediondas, Lula silenciou. Percebeu que as vantagens de não demonstrar com palavras os vazios ainda não preenchidos da inconsciência. É um grande avanço.

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