sábado, 22 de julho de 2023

Moraes e Barroso: duas vigas do STF sob ataques



Há pesadas nuvens se reagrupando no céu da política e dos ambientes de poder no País. O olho do sismo em formação (em setores políticos, econômicos e militares), desta vez, mira duas vigas mestras da atual composição do Supremo Tribunal Federal – os ministros Alexandre de Moraes e Luiz Roberto Barroso – que há muito estão na linha de ataques da ultra- direita seguidora do ex-presidente Jair Bolsonaro, não raro com golpes abaixo da linha da cintura, que atingem até familiares deles.

Segue em curso a explosiva e perigosa aliança de inconformados com a derrota nas últimas eleições, sedenta de retaliações e vingança.

O episódio mais recente ocorreu, semana passada, no aeroporto internacional de Roma, onde o ministro Alexandre de Moraes transitava com familiares e foi alvo de ruidoso e selvagem ataque, por parte de pessoas, de abastada família do interior paulista. Uma mulher, de nome Andréa, apontada como a mais exaltada e agressiva do grupo, chamou o ministro do STF de “bandido, comunista e vendido”. O marido, não menos irado, deu tapa na cara do filho de Moraes, jogando longe os óculos que o rapaz usava. O resto é o que se sabe: um novo affair internacional – ao estilo dos bolsonaristas – a exemplo do que já havia acontecido, com o ministro Roberto Barroso, no aeroporto de Miami (USA). A PF abriu inquérito para apurar tudo; já interrogou os três acusados da família Mantovani, envolvidos no caso na capital italiana – e suas prováveis ramificações.

Assim como no caso do ministro Barroso nos Estados Unidos levantou-se, além da ampla onda de solidaria reação de setores jurídicos, políticos, intelectuais, governamentais e democráticos, de condenação às ofensas e ameaças, que afinal deram em nada e caíram no esquecimento. Que no ataque a Moraes, tudo não se repita.

Do outro lado do cabo-de-guerra, neste caso, surgiu o caro e bem situado advogado da família Mantovani que, de declaração em declaração, tenta transformar o ministro Alexandre Moraes de agredido em agressor. No embalo do confronto bipolar que as eleições presidenciais nem de longe conseguiram superar, esta semana, senadores e deputados bolsonaristas pediram abertura de protocolo para impeachment do ministro Barroso, sob acusação de ter cometido crime de responsabilidade, ao ter dito – em ato público promovido pela UNE, – que derrotou o bolsonarismo. “Nada do que está acontecendo aqui (vaias entre aplausos ao seu discurso) me é estranho”, disse o ministro. “Eu enfrentei a ditadura e já enfrentei o bolsonarismo. Não tenho medo de vaias porque temos um país para construir”, arrematou Barroso, jogando brasas no paiol.

Estes fatos citados revelam, ao mesmo tempo, que apesar das diferenças pessoais e de estilo, entre o magistrado paulista (Moraes) e o carioca (Barroso), os dois são moldados na mesma fibra que dá formato ao estadista, segundo o Decálogo do notável Ulysses Guimarães, logo em seu primeiro preceito: a Coragem. “O pusilânime (o covarde, o medroso) jamais será um estadista. A coragem é a primeira das virtudes, porque, sem ela, todas as demais, a fé, a caridade e o patriotismo desaparecem na hora do perigo. Há momentos em que o homem público precisa decidir, mesmo com o risco de sua vida, liberdade ou impopularidade, mas, sem coragem não o fará”, diz o primeiro mandamento de Ulysses. Precisa desenhar? Responda quem souber.

Por Vitor Hugo Soares

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