sexta-feira, 21 de julho de 2023

Com vida própria, língua de Lula fornece material para a oposição



A língua de Lula ganhou vida própria. Parece ter firmado um pacto com a oposição. Dedica-se a salpicar gafes na bem-sucedida diplomacia presidencial desenvolvida pelo dono. A língua enfiou mais duas derrapagens verbais no mais recente roteiro internacional de Lula. Numa, provocou uma saia-justa com o presidente chileno Gabriel Boric. Noutra, constrangeu os brasileiros que se envergonham da escravidão. Em ambas, forneceu munição para os adversários.

Protagonista de uma esquerda contemporânea, Gabriel Boric criticou em Bruxelas países latino-americanos e caribenhos que vetaram menção à agressão da Rússia num trecho do comunicado final da cúpula com nações da Europa. O parágrafo em questão foi dedicado à guerra na Ucrânia. Instado a comentar, Lula atribuiu a posição de Boric à inexperiência e à juventude que leva o companheiro, com seus 37 anos, a ser "mais sequioso e apressado".

Em abril, Lula havia equiparado a invadida Ucrânia à invasora Rússia. O texto de Bruxelas, embora poupe Vladimir Putin de menções ácidas, não comete o absurdo da equiparação. Em maio, Lula já havia trombado com Boric ao dizer que a ditadura na Venezuela é mera "narrativa". As violações praticadas sob Nicolás Maduro são uma "realidade", não uma ficção, respondeu o chileno.

Em Bruxelas, Lula subscreveu documento que cobra de Maduro eleições limpas em 2024. Aos pouquinhos, a jovialidade prevalecendo sobre a naftalina. Lula vai encostando sua retórica nas posições de Boric, não o contrário.

No retorno ao Brasil, Lula fez escala em Cabo Verde. Ao lado do presidente José Maria Neves, ela, a língua disse ter "profunda gratidão" à África "por tudo que foi produzido durante 350 anos" de exploração da mão de obra escrava no Brasil.

A prioridade que Lula sempre atribui à África e as políticas afirmativas adotadas em seus governos anteriores demonstram que o personagem acredita que a escravidão é um vexame a ser reparado. Mas não há a essa altura força no universo capaz de deter a maledicência segundo a qual a língua de Lula está fechada com seus seus adversários.

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