Bolsonaro retirou o jato presidencial do hangar para voar até Alagoas. Foi inaugurar obras cujas fitas já haviam sido cortadas. Ao lado dos réus Fernando Collor e Arthur Lira, o presidente chamou de "vagabundo" e "picareta" outro réu: Renan Calheiros.
O capitão ecoou o primogênito Flávio Bolsonaro, que estivera na véspera na CPI da Covid para chamar o relator da comissão de "vagabundo" e ser achincalhado por Renan, que devolveu o xingamento e o acusou de "roubar dinheiro do pessoal do seu gabinete."
A esse ponto chegamos: acusam-se mutuamente de vagabundagem e ladroagem a família Bolsonaro, com a imagem já bem rachadinha, e o colecionador de inquéritos Renan Calheiros. Assaltada (ops!) pela sensação de que os dois lados podem ter razão, a plateia toma o partido da briga.
Numa das reinaugurações estreladas por Bolsonaro, a claque ecoou o orador. Ouviu-se um coro de "Renan vagabundo". Entusiasmado, o capitão aproveitou para desancar um aliado de Renan. Em desvantagem no Datafolha, chamou Lula de "ladrão de nove dedos".
Trava-se ao redor da CPI uma espécie de gincana entre sujos e mal lavados. Uma competição na qual a decência é um valor secundário. Antes de derramar baldes de lama sobre Renan, Bolsonaro articulou uma aproximação com o dono do enredo a ser contado no relatório final da investigação sobre a pandemia.
Primeiro, o presidente da República telefonou para Renan Filho, governador de Alagoas. Manifestou o desejo de conversar com o pai do interlocutor. Foi "uma ligação amistosa", contou Renanzinho dias atrás. Bolsonaro fez pose de amigo. "Ele disse até assim: 'olha, Renan, estou com saudade daquelas nossas peladas do futebol'."
Na sequência, Bolsonaro visitou em Brasília a mansão de José Sarney, o xamã da tribo do MDB. Novamente, queria estabelecer uma ponte que o levasse aos ouvidos de Renan. Não funcionou. O presidente faria um bem a si mesmo se explicasse à plateia o que desejava obter com esse estreitamento da inimizade com um "vagabundo".
Por Josias de Souza
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