quinta-feira, 27 de maio de 2021

Esquerda vai às ruas para mostrar que a insanidade não tem uma ideologia



O Brasil vive dias fascinantes. Com os contágios e as internações novamente em alta, o país assiste a uma divisão dos epidemiologistas em dois grupos. Uma ala acredita que a terceira onda da pandemia está prestes a chegar. Outra banda sustenta que nova onda já chegou.

Nesse ambiente infeccioso, a esquerda lulista decidiu combater as aglomerações de Bolsonaro promovendo os seus próprios ajuntamentos. Repetindo: a esquerda responderá à estupidez da direita provando que também sabe ser estúpida.

Esquerda e direita reforçam a impressão de que são movidas por uma fé que evoca a origem cristã ou socialista da maioria dos seus devotos. A pandemia apenas potencializa a impressão de que o ingrediente da dúvida está excluído dos dois credos.

Ambos são movidos pelas certezas que extraem das revelações divinas ou do determinismo histórico. Acorrentados às suas respectivas convicções, avaliam que têm uma missão especial na terra, de inspiração divina ou revolucionária.

O contrário do anti-lulismo e do anti-bolsonarismo primários é o pró-lulismo e o pró-bolsonarismo inocentes, que aceitam todas as presunções das duas tribos a seu próprio respeito. Em matéria de pandemia, isso inclui concordar com a tese segundo a qual as minorias são potências morais que só prestam contas às suas próprias noções de superioridade.

Não é a hipocrisia dos dois grupos que assusta. A hipocrisia pelo menos exige alguma reflexão. O espantoso é notar que os devotos dos dois polos não estão sendo cínicos. Acreditam mesmo que a missão especial que cumprem na Terra lhes dá o direito de firmar uma aliança com o vírus. Quem observa à distância pode imaginar que sofrem de insanidade. Engano. Desfrutam cada segundo dela.

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