Ao converter Eduardo Pazuello em adereço do comício antissanitário que realizou no Rio de Janeiro, Bolsonaro deixou o comando do Exército numa farda justa. General da ativa, Pazuello está submetido ao Estatuto dos Militares e ao Regulamento Disciplinar do Exército, que vedam o envolvimento de fardados da ativa com questões político-partidárias e a participação em manifestações políticas.
Recém-acomodado no posto de comandante do Exército, o general Paulo Sérgio Nogueira está diante de um dilema: ou pune Pazuello, arriscando-se a ser desautorizado por Bolsonaro, ou desmoraliza a instituição que jurou defender. Não há uma terceira opção.
"Esse é o gordo do bem, é o gordo paraquedista", declarou Bolsonaro, do alto de um caminhão de som, com Pazuello a tiracolo. Alguma coisa subiu à cabeça do ex-ministro da Saúde quando se deixou levar pelo ex-chefe. Pazuello ainda não se deu conta de que o cérebro é mais ou menos como um paraquedas. Funciona melhor quando está aberto para a realidade.
A realidade de Pazuello é inóspita. Protagonista de inquérito no Ministério Público e de auditoria no Tribunal de Contas da União, o ex-ministro está prestes a ser convocado novamente pela CPI da Covid. O comandante Paulo Sérgio molha a farda para impedir que os infortúnios de Pazuello infeccionem a imagem do Exército.
Parte da cúpula militar avalia que o maior excesso que se poderia cometer diante dos pendores políticos de Pazuello seria o excesso de moderação. Afora os riscos disciplinares, há o receio de permitir que o passivo sanitário acumulado por Bolsonaro seja jogado na porta dos quarteis.
Antecessor de Paulo Sérgio no comando do Exército, o general Edson Leal Pujol declarou no ano passado: "Não queremos fazer parte da política, muito menos deixar ela entrar nos quartéis."
O que Pujol quis dizer, com outras palavras, foi o seguinte: Os generais que ocupam postos civis no governo Bolsonaro comandam escrivaninhas, não tropas. Deveria ser uma obviedade. Mas o capitão tornou a reiteração de obviedades uma necessidade.
Pujol foi escanteado por Bolsonaro, mas o raciocínio que expressou em público, por dogmático, continua de pé. Ironicamente, Paulo Sérgio, o sucessor de Pujol, discute a hipótese de punir Pazuello com o general Braga Netto, um ministro da Defesa que ornamentou uma aglomeração política com Bolsonaro uma semana antes de Pazuello.
Alega-se que Braga Netto já passou para a reserva. A desculpa é real, mas esfarrapada. O titular da pasta da Defesa deveria oferecer aos subordinados o exemplo de uma conduta irretocável. No caso de Pazuello, há um incômodo adicional: o personagem resistiu a todos os apelos para que pendurasse a farda. Ele será instado novamente a migrar para a reserva. A providência viria bem, mas chegaria tarde. O estrago está feito. Será maior se Pazuello não for punido. O leque de alternativas vai de mera advertência à prisão disciplinar.
Por Josias de Souza
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