quinta-feira, 27 de maio de 2021

Covid-19 dispara. Fale-nos, presidente imbrochável, incomível e imprestável



E se a gente cobrasse uma resposta de Jair Bolsonaro, este que tem fama de presidente da República? O que lhes parece? Já digo por que escrevo isso.

Dezessete Estados e o Distrito Federal têm ocupação de 80% ou mais em seus leitos de UTI para Covid-19, informa o Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz que foi divulgado nesta quarta. Nove capitais estão com 90% ou mais: Rio, Curitiba, Recife, São Luís, Natal, Maceió, Aracaju, Campo Grande e Palmas.

No DF, chega a mais de 95%. A taxa de contaminação voltou a ficar acima de 1 depois de 57 dias. Está em 1,12. Isso quer dizer que cada grupo de 100 pessoas infectadas contamina 112. Vale dizer: a curva é ascendente. Não obstante, aquele que dizem ser presidente já anunciou que vai recorrer de novo ao Supremo para impedir que governadores e prefeitos possam impor medidas restritivas. Ele estava pensando num decreto, mas, compreensivo que é, recuou.

Espalham-se os sinais de uma terceira onda sem que a segunda tenha dado algum descanso. De fato, é só a que já temos voltando a empinar. Os mortos vão se empilhando. E novas cepas vão sendo detectadas. Os vacinados com duas doses são pouco mais de 20 milhões. Marcelo Queiroga, aquele outro suspeito de ser ministro da Saúde, baixou para 43,8 milhões a expectativa de vacinas para julho — 8 milhões a menos do que havia sido divulgado.

COVARDIA
Bolsonaro prefere, nessas horas, a covardia. Por que não dá uma entrevista coletiva em vez de ficar jogando perdigotos de indignidade às portas dos Alvorada, como um arruaceiro qualquer? Ainda que seja. Não custa lembrar que, bem ou mal, tem as vestes presidenciais. As simbólicas ao menos. Eis a hora em que cabe indagar ao presidente: qual a sugestão?

Levar uma vida normal e ignorar o repique da contaminação, de consequências ainda incertas? o"Modelo Bolsonaro-Pazuello" de enfrentar a Covid-19 teve um laboratório: Manaus. Foi lá que a frenética circulação do vírus deu à luz a variante P1, que devastou o país. Não é culpa dos manauaras, claro!, mas de uma política porca empreendida pelo Ministério da Saúde.

É claro que, mesmo com um governo decente, haveria muitos milhares de óbitos. Mas é certo que não teríamos chegado a essa catástrofe. Afinal, está demonstrado, o distanciamento funciona.

SÃO PAULO
Na cidade de São Paulo, a taxa de ocupação das UTIs saltou de 76% na sexta para 82% na segunda. A Prefeitura deve abrir 250 novos leitos para tratamento intensivo. Já há hospitais lotados em Campinas. Ribeirão Preto tem um número recorde de internados. Em Franca, nesta teça, a ocupação de leitos das redes pública e privada chegava a 97,9%.

VOLTO AO PONTO
Saia desse conforto covarde, Bolsonaro! Forme a rede de rádio e televisão e diga aos brasileiros:
"Em julho, haverá oito milhões a menos de doses de vacina do que o meu Ministério da Saúde prometeu, e as contaminações e as mortes voltaram a aumentar. Por isso mesmo, peço a vocês que levem uma vida normal, que não tenham medo, que aglomerem, que façam festas, que partam para o abraço. Afinal, todo mundo morre um dia. Esse é o meu remédio para a superlotação dos hospitais. Quando não houver mais vagas de UTI ou de leitos normais, as pessoas param de reclamar e morrem quietas, em casa, sem perturbar".

Mas o presidente, bom retórico que é, tem de ir mais longe:
"Como eu sempre digo, a liberdade é mais importante do que a vida, e é preciso que vocês digam para esses comunistinhas que vocês optaram pela liberdade de morrer".

E cumpre ao presidente ser realista. Muitos gostam de sua sinceridade:

"Eu não morri. Mas é porque sou imorrível, imbrochável, incomível e, como teria dito Vicente Matheus certa feita, lendário presidente do Corinthians, sou também imprestável".

E pronto.

Por Reinaldo Azevedo

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