segunda-feira, 3 de maio de 2021

Bananinha sinaliza que modelo da família Bolsonaro é El Salvador, não EUA



O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, realiza como um sonho o pesadelo que a família Bolsonaro gostaria de impor ao Brasil. Com o apoio do Congresso, Bukele destituiu juízes da Suprema Corte salvadorenha, substituindo-os por magistrados leais ao governo. Chamou a manobra de "limpeza da casa." O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) correu ao Twitter para aplaudir: "Tudo constitucional. Juízes julgam casos, se quiserem ditar políticas que saiam às ruas para se elegerem", anotou o filho Zero Três de Bolsonaro, com seu português precário.

Até bem pouco, os Bolsonaro fingiam enxergar nos Estados Unidos o modelo civilizatório a ser seguido pelo Brasil. Depois que o democrata Joe Biden derrotou o republicano Donald Trump, num processo eleitoral em que o Judiciário americano deu uma banana para as alegações de fraude, a primeira-família já não se importa de ostentar sem disfarces seus parâmetros institucionais rebaixados, adotando como padrão a ser imitado uma República de Bananas onde um presidente de vocação autocrata concentra o poder.

Como disse certa vez o vice-presidente Hamilton Mourão, se o filho Zero Três do presidente da República se chamasse "Eduardo Bananinha" ninguém daria importância às suas declarações tóxicas. Mas o personagem é filho do Bananão. E o pai também produz polêmicas com a mesma naturalidade com que a bananeira dá bananas.

Em julho de 2018, falando para alunos de um cursinho da cidade paranaense de Cascavel, Eduardo Bolsonaro disse que "pra fechar o STF basta um cabo e um soldado." Onze dias antes, o então presidenciável Jair Bolsonaro dissera que "governar com um Supremo desse que tá aí fica complicado." Defendera a ampliação da composição da Corte de 11 para 21 magistrados, "para termos a maioria lá dentro." (reveja no vídeo acima)

Falta aos Bolsonaro uma noção qualquer de institucionalidade. Eduardo Bananinha manifestou sua inveja em relação ao que se passa em El Salvador num final de semana em que compareceu em São Paulo a uma manifestação anti-democrática. Coisa ornamentada com faixas pedindo "intervenção militar com Bolsonaro." O presidente também prestigiou seus devotos, sobrevoando de helicóptero uma aglomeração de apoiadores em Brasília.

Duas coisas escapam à percepção dos Bolsonaro: 1) O Brasil não é El Salvador; 2) os bolsonaristas que vão ao meio-fio expressam apenas a devoção de uma parcela da opinião pública. Uma parcela que diminui à medida que o brasileiro percebe a inapetência do presidente para presidir a crise sanitária que matou mais de 400 mil pessoas.

Por Josias de Souza

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