sexta-feira, 14 de maio de 2021

Silêncio de Pazuello é confissão de Bolsonaro



Bolsonaro declarou na sua live semanal que Eduardo Pazuello "acertou em tudo o que fez no ano passado". Horas antes, a Advocacia-Geral da União protocolara no Supremo Tribunal Federal um pedido para que o ex-ministro da Saúde possa ficar calado na CPI da Covid sem receber voz de prisão dos senadores. Poucas vezes um silêncio soará tão eloquente quanto o mutismo do general.

Pazuello, o infalível, executou o pior na pasta da Saúde da melhor maneira possível. Fez isso porque "um manda e o outro obedece". Beneficiado com o salvo-conduto do Supremo, o general migraria da condição de testemunha para a de investigado. E poderia exercer o direito constitucional de não produzir prova contra si mesmo, escondendo-se atrás de meias palavras. Ou de palavra nenhuma.

O ex-ministro não teria de explicar por que converteu a cloroquina em poção mágica do SUS. Não precisaria dizer que refugou 70 milhões de doses de vacinas da Pfizer em agosto de 2020 para livrar os brasileiros da maldição do jacaré. Estaria dispensado de arranjar desculpas para a humilhação de ter rasgado o compromisso de compra de 46 milhões de doses da "vacina chinesa do Doria" em outubro.

Delegado aposentado, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) contou que a CPI da Covid estenderá para o general na próxima quarta-feira o tapete vermelho reservado às testemunhas. Decidiu-se que, independentemente da posição do Supremo, Pazuello será convidado a assumir o compromisso de dizer a verdade sobre tudo o que "acertou" na Saúde.

Entretanto, não se pode impedir uma testemunha de reivindicar a constrangedora posição de investigado. "Ao pedir o habeas corpus ao Supremo, o ex-ministro se apresenta como alguém que precisa esconder alguma coisa. É uma confissão de culpa. Se ele se recusar a assumir o compromisso de dizer a verdade, não restará à CPI senão interrogá-lo como investigado."

De fato, o eventual silêncio soará com a eloquência de uma confissão. Não apenas de Pazuello, que obedeceu a ordens absurdas, mas sobretudo de Bolsonaro, que mandou fazer o impensável.

Por Josias de Souza

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