quinta-feira, 31 de outubro de 2019

MP-RJ faz besteira, e Bolsonaro cobra inimputabilidade para toda a família


Simone Sibilio, promotora do caso Marielle: destrambelhamento
do MP está sendo explorado por Bolsonaro.

Devagar com o andor! 

As trapalhadas do Ministério Público do Estado do Rio e a publicação, pelo Jornal Nacional, do vazamento de uma investigação que, segundo consta agora, já era matéria vencida na Procuradoria-Geral da República e no STF, estão servindo para que o presidente Jair Bolsonaro e seu entorno busquem uma espécie de inimputabilidade permanente sobre casos do passado, do presente e do futuro.

Vamos ver. Sabe-se lá por quê, o MP do Rio diz ter tido acesso ao resultado da perícia sobre as conversas entre a guarita e os moradores do condomínio Vivendas da Barra só nesta quarta, um dia depois da publicação da reportagem do Jornal Nacional. Pergunta: por que não se fez a dita-cuja antes?

Como vimos na terça, a reportagem informava que dois depoimentos de um porteiro sustentavam que uma voz parecida com a de Jair Bolsonaro havia autorizado o ingresso de Élcio Queiroz no condomínio. Ele é um dos acusados de ter matado a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes.

Segundo a tal perícia, quem autorizou a entrada do carro em que estava Queiroz foi o próprio Ronnie Lessa, o outro acusado. Assim, o porteiro teria entrado em contato com a casa que leva os números 65 e 66, onde mora Lessa, não com a de número 58, que é a de Bolsonaro.

Ocorre que não é esse o registro físico que o porteiro fez no livro. Lá está escrito que o Logan conduzido por Queiroz iria à casa de Bolsonaro, embora tenha se dirigido para o lugar em que mora Lessa. Os depoimentos do porteiro foram colhidos já no curso da investigação. Mas o registro em livro foi feito no dia em que o carro entrou no condomínio: 14 de março de 2018, às 17h10. Marielle e Anderson foram assassinados por Lessa e Queiroz por volta das 21h30 daquele dia.

Fato: membros do MP Estadual do Rio já haviam atropelado o juiz do caso e ido diretamente ao Supremo para falar com o ministro Dias Toffoli e saber se o aparecimento do nome do presidente no caso levaria a investigação para o Supremo. Do que dá para entender, o ministro acionou Augusto Aras, procurador-geral da República, que não teria visto razão para procedimento investigativo. Mais: se visse, estaríamos diante de uma questão. Presidentes não podem ser responsabilizados, no curso do mandato, por atos anteriores à posse, segundo dispõe o Parágrafo 4º do Artigo 86 da Constituição.

Pergunta: por que o MP do Rio atropelou a Justiça estadual e apelou diretamente ao Supremo? Estamos diante de uma coincidência realmente do balocobaco! No dia em que o presidente grava um vídeo acusando uma grande conspiração para derrubá-lo, envolvendo setores da imprensa, Wilson Witzel (governador do Rio) e a própria polícia do Estado, o MP Estadual divulga, então, o resultado da perícia que, por ora, transforma o porteiro ou em vilão ou em instrumento da suposta conspiração.

Tenho de constatar: com a mesma sem-cerimônia com que a promotora Simone Sibilio atropelou a Justiça Estadual e foi ao Supremo, ela afirmou em entrevista coletiva que o porteiro mentiu. Depois amenizou: disse que a informação prestada por ele "não guarda compatibilidade com a prova técnica".

E aí as coisas começam a se complicar bastante. No vídeo furioso que gravou para responder à Globo e aos inimigos, Bolsonaro reclama das investigações que também dizem respeito a seus filhos. Ora, que houvesse lambança no gabinete de Flávio Bolsonaro quando deputado estadual, sob a gerência de outro Queiroz, o Fabrício, eis um fato admitido até pelo ex-faz-tudo do agora senador.

Também são salientes as evidências de que fantasmas transitaram pelo gabinete do vereador Carlos Bolsonaro. O pai presidente, no entanto, ao negar com veemência qualquer ligação com o caso Marielle, aproveitou para assegurar a inocência também dos filhos e para desqualificar as investigações que dizem respeito à dupla. 

Há uma diferença entre apontar inconsistência ou improcedência no depoimento de um porteiro e tentar ganhar uma espécie de salvo-conduto permanente para toda a família, a despeito dos fatos.

Por Reinaldo Azevedo

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