sexta-feira, 18 de outubro de 2019

As sandices de Bolsonaro e a crença em almas do outro mundo



Nada do que estarrece os meus olhos, que ainda não estão cansados de se encantar e de se espantar, é maluquice? Vocês juram mesmo que o presidente da República e seus filhos — de saber parco, improvisado e tirado da algibeira — estão agindo com cálculo e método, já antevendo a reação deste ou daquele? Maldito Shakespeare! Depois que a personagem Polônio, na peça Hamlet, disse que as besteiras proferidas pelo príncipe doidivanas eram loucura, mas tinham método, passou a haver uma injusta e generalizada descrença na pura e simples maluquice.

Reconhecer que temos um presidente com muitos parafusos a menos traz ao primeiro plano a nossa própria sandice. "Nossa", digo, a dos brasileiros: gente, leitor, como eu e você. Ainda que, pessoalmente, cada um de nós possa ter feito outras escolhas. Elegemos o cara que está aí. Convenham: ninguém tem o direito de alegar surpresa, qualquer que tenha sido o voto individual. E também não vale dizer: "Ah, a alternativa era um petista…" Pensem bem! Essa é uma desculpa mais falsa do que nota de três reais.

Quando vemos o doido atirar contra o próprio patrimônio; quando constatamos que ele pode explodir sua base de apoio, já insuficiente para garantir a estabilidade política; quando nos deparamos com ações que seriam típicas de sabotadores, bem, a nossa primeira reação é agir, então, como aquele que acredita em almas penadas ou na visita de seres de planetas distantes. Pensamos: "Ah, certamente, há alguma coisa encoberta aí que ainda não sabemos. Há, em tudo isso, uma verdade secreta que não alcançamos".

Pois é, acho que nada há além de indigência intelectual, política e moral. Um conjunto de circunstâncias levou os brasileiros a fazer essa escolha trágica. Como povo, acreditamos que um bando de celerados poderia fazer a coisa certa. Pensamos algo mais ou menos assim: "Já que os especialistas falharam, por que não um ogro, que profere ignorâncias com o desassombro dos irresponsáveis?" E cá estamos. 

Jair Bolsonaro nem é uma alma penada nem é um ET. É presidente do Brasil. Não se impôs a nós. Foi eleito. E por que isso aconteceu? Temos de buscar essa explicação.

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