Todo brasileiro tem o dever patriótico de intrigar Jair Bolsonaro com Luciano Bivar. Sim, é verdade, a briga pode atrapalhar a governabilidade e a tramitação das reformas. Mas é preciso pensar na sanidade nacional. Ela ainda pode ser salva, desde que a briga tenha um desfecho lógico.
"Qualquer casamento é passível de divórcio", disse o porta-voz da Presidência Otávio Rêgo Barros, ecoando comentário de Bolsonaro. A separação, de fato, envolve conflitos assemelhados aos de uma união matrimonial —do tipo em que os interesses pecuniários acabam transformando o matrimônio em patrimônio.
Na crise com o seu partido, Bolsonaro comporta-se como um Donald Trump dos trópicos. Canaliza sua raiva para a consolidação de um governo da guerra, para a guerra e pela guerra. Sentado sobre a caixa do fundo partidário, Bivar parece inspirar-se mais em Ivana, mulher de Trump no período de 1977 a 1992.
Ao divorciar-se do marido, Ivana distribuiu um conselho inspirador às mulheres: "Não fiquem com raiva. Fiquem com tudo". Afora uma mesada polpuda, a sábia senhora amealhou fortuna. Coisa de US$ 50 milhões. Mal comparando, Bivar e Bolsonaro também guerreiam pelo cofre. Com uma diferença: a verba é pública.
— Este livro do Brilhante Ustra é meu ou seu?
— É meu, claro!
— Então, tá. Você fica com o Ustra. Eu fico com o fundo partidário.
Bolsonaro se equipa para um divórcio litigioso. Coube à Polícia Federal fazer um inventário dos laranjais do PSL. Já havia encostado na Presidência do capitão um ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, indiciado e denunciado no escândalo do laranjal mineiro. Agora, varejou endereços de Bivar, também suspeito de desviar verbas eleitorais.
A família bolsonarista dividiu-se. "O presidente da República tem bola de cristal, porque ele ataca o presidente do partido e, uma semana depois, acontece a operação", queixou-se o deputado Delegado Waldir (GO), líder do PSL. "Acho que só falta a busca na casa do [Fabrício] Queiroz e do senador [Flávio Bolsonaro]".
Após conversar com Bolsonaro, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) declarou que o presidente impõe condições para permanecer no PSL. Deseja obter o controle da Executiva Nacional da legenda (pode me chamar de caixa registradora).
Quem observa de longe já tem dificuldades para distinguir sujos de mal lavados. Mesmo sem conseguir diferenciar uns dos outros, é preciso estimular a separação e a responsabilização criminal de cínicos e hipócritas. Sob pena de a plateia concluir que, se não está todo mundo meio doido, o país é que está inteiramente fora de si.
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