segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Eleição virou um bufê que serve mais do mesmo



Eleição é como loteria, só que sem um prêmio no final. O voto, na maioria das vezes, é um equívoco renovado a cada dois anos —ora em pleitos gerais, ora em disputas municipais. O eleitor é um cidadão condenado a optar entre o lamentável e o impensável. Tudo continua praticamente igual. A diferença é que a fuzarca passou a ser financiada pelo contribuinte.

O dinheiro sai de dois fundos custeados pelo déficit público: o eleitoral e o partidário. A três semanas do primeiro turno, a Justiça Eleitoral levou à vitrine a escrituração parcial dos partidos. Disputam a sorte nas urnas algo como 550 mil candidatos a vereador e a prefeito. O grosso da verba, informa a Folha, foi para a campanha de 0,8% do total de candidatos.

Até aqui, os partidos distribuíram R$ 807 milhões a algo como 50 mil candidatos. Desse total, R$ 646 milhões —80% do cascalho— escorreram para a caixa registradora dos comitês de cerca de 4.600 candidatos. Num processo que conspira contra a renovação, os oligarcas que mandam nos partidos privilegiam a mesma corriola de sempre. A maioria dos novatos recebe pouco ou nenhum dinheiro.

Em condições normais, não fica bem maldizer os políticos e usar um timbre de seda para falar dos eleitores. Mas eleição é como bufê. O sujeito não pode preparar uma iguaria. Paga adiantado e tem que escolher entre os pratos que estão no balcão —mais do mesmo.

O despautério acontece porque a lei que criou em 2017 o fundo eleitoral não definiu como a verba do Tesouro Nacional seria distribuída pelos partidos. Na prática, instituiu-se uma versão marota de financiamento público das eleições com voto em lista. Nesse modelo, o eleitor perde o direito de escolher o candidato em que vai votar.

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