A expressão vem do francês: prêt-à-porter. Pode ser decomposta assim: prêt (pronto) + à-porter (para levar). No idioma da moda, significa "pronto para vestir". Não possui o glamour de uma peça de alta-costura. Mas tem ótima aceitação no mercado. Nos próximos dias entrará em cartaz um novo espetáculo do circuito da moda prêt-à-porter: o Senado Fashion Week.
A crise moral de Chico Rodrigues está prestes a se transformar num processo de desmoralização do Senado. No seu drama ético, o senador do DEM de Roraima foi apanhado pela Polícia Federal com R$ 33 mil na cueca e a biografia enganchada num caso de malversação de fundos da Saúde. Na nova semana de moda, o Senado atravessará a passarela vestindo a cueca malcheirosa.
Jair Bolsonaro apressou-se em tomar distância de Chico Rodrigues, um amigo com quem manteve uma "união estável" de duas décadas. Cuidou para que fosse afastado da vice-liderança do governo. Mas o Senado cogita aperfeiçoar o esprit de corps inventado pelos franceses, criando o esprit de porc —versão brasileira do instinto corporativo de autoproteção.
A menos que ocorra uma vigorosa reação da opinião pública, o Senado empurrará a cueca com a barriga. Deseja-se retardar a tramitação de um pedido de cassação do mandato de Chico no Conselho de Ética. Cogita-se abrir uma trincheira para reagir contra o afastamento do senador por 90 dias, determinado por Luiz Roberto Barroso em despacho a ser apreciado pelo plenário do Supremo na quarta-feira.
Alega-se que o Poder Judiciário invade a seara do Legislativo. Uma evidência de que a sacrossanta a imunidade parlamentar tornou-se uma demasia que serve para justificar qualquer imoralidade.
Quando Davi Alcolumbre, presidente do Senado, reage à decomposição moral com o silêncio, está vestindo no Senado o figurino de Chico Rodrigues, seu companheiro de partido. Se a cueca não ajuda, aplica-se no traseiro um bordado de aparência institucional. E a peça fica pronta para o Senado usar. Ou para ser usado.
Por Josias de Souza
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