sábado, 17 de outubro de 2020

Congresso opta pela irresponsabilidade e Posto Ipiranga oferece merda



A balbúrdia que ronda o Ministério da Economia e as conexões políticas do Planalto com o Congresso não é alimentada por uma oposição atuante. Ela vem de dentro de um governo desconexo. Nele, brilha quem aposta na confusão.

Jair Bolsonaro não abre mão de criar um benefício novo para colocar no lugar do auxílio emergencial da pandemia. O presidente se esquiva, porém, de exercer o intransferível e antipático papel de informar que programas serão cancelados para financiar o Renda Cidadã.

Avessos à ideia de assumir o manuseio da tesoura, aliados do governo no Congresso flertam com a irresponsabilidade fiscal. Tramam esticar até março de 2021 o decreto de calamidade que escancarou os cofres públicos durante a crise sanitária. Desse modo, pagariam com o déficit público mais três parcelas do auxílio emergencial de R$ 300.

Paulo Guedes leva o pé à porta. Diz que prefere manter o velho Bolsa Família, sem anabolizantes, a ter que furar o teto de gastos. Enquanto lamenta que o Congresso tenha congelado o debate sobre a agenda de reformas liberais para depois das eleições municipais, Guedes inquieta-se com o crescimento do desemprego.

Um dia depois de declarar que poderia desistir da ideia de criar um novo imposto nos moldes da velha CPMF, o ministro da Economia se autodesmentiu. Reafirmou que o tributo é necessário para compensar a desoneração da folha, estimulando a abertura de vagas no mercado formal de trabalho.

"Estamos subsidiando capital e taxando o trabalho. É inaceitável", disse Guedes. "Então, enquanto as pessoas não vierem com uma solução melhor, eu prefiro a segunda melhor, que é esse imposto de merda."

Chegou-se a uma combinação explosiva. Estimulados pela inação do presidente da República, os aliados do governo no Congresso fazem uma opção preferencial pela irresponsabilidade fiscal. Acossado pela síndrome do que está por vir, o Posto Ipiranga leva merda à gôndola da sua lojinha de conveniências. Não há o menor risco de dar certo.

Por Josias de Souza

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