segunda-feira, 5 de outubro de 2020

A dor de corno dos reaças. E Bolsonaro falou uma verdade.



O presidente Jair Bolsonaro decidiu surpreender a quase todo mundo e indicou o desembargador Kássio Nunes para a vaga no Supremo que será aberta com a aposentadoria de Celso de Mello. Enfrenta a má-vontade de uma parte da imprensa — seria muito pior se a escolha recaísse sobre André Mendonça e Jorge Oliveira — e a fúria de suas próprias milícias digitais e de alguns aliados que têm, vamos dizer, existência física. As oposições estão mudas.

Teve de sair em defesa de sua escolha. E uma ocorrência rara se deu: vimos o presidente no Twitter a falar a verdade. Como já afirmei no programa "O É da Coisa", é mentira que Nunes tenha votado pela permanência do terrorista Cesare Battisti no Brasil. Poucas pessoas na imprensa — ou ninguém — criticaram tanto, como critiquei, o refúgio dado a esse assassino, finalmente confesso. Conheço o caso.

Nunes apenas acatou voto do relator em agravo impetrado pela defesa de Battisti contra uma decisão imprópria de uma juíza federal de primeira instância que havia mandado deportar o terrorista italiano. De atropelo ao devido processo legal a uma clara invasão de competência, havia de tudo naquela decisão. A 6ª Turma do TRF-1 nem examinou o mérito. O desfecho é conhecido: o STF julgou o refúgio ilegal, mas afirmou que a decisão final era do presidente. E Lula manteve Battisti no Brasil. Hoje, admite ter sido um erro. Adiante.

Alguém redigiu em nome de Bolsonaro uma sequência de tuítes com minudência do voto, então, de Nunes, que apenas seguiu o relator numa coisa óbvia. Bolsonaro falando a verdade no Twitter? Agora só falta o Tio Rei ganhar sozinho na Mega-Sena. "Precisa ser sozinho, egoísta?" Gente, é só uma medida de raridade quase impossível. As esquerdas, por óbvio, não tocam no caso Battisti. É a extrema-direita bolsonarista que secreta a baba hidrófoba.

Nunes também é acusado de ter liberado a compra de lagostas pelo STF. O moralismo é sempre burro, raso e chinfrim. Pela ordem: o tribunal tem de comprar comida, qualquer uma. Se lagosta ou ovo com chuchu, não cabe à Justiça federal decidir. Esta entra em ação, se acionada, no caso de haver alguma irregularidade no edital de licitação ou na compra. Não havia. Nunes cassou a liminar. E fez muito bem! Existem restrições legais em processos licitatórios e compras. O juiz discordar dos itens não está entre elas.

Você até pode achar que o Supremo deve servir em seus jantares para autoridades nacionais e estrangerias pescoço e pé de frango, regado a suco em pó instantâneo, tudo arrematado com um, digamos, pudim de amido de milho cozido em água com açúcar. Mas isso nada tem a ver com lei. E juízes existem para aplicar as leis, não para moralizar o cardápio.

Ah, não! Até agora, nada sei que impeça Nunes de ser ministro do Supremo. A penca de advogados que conheço me diz que suas decisões costumam ser técnicas e que não é dado a proselitismos. Que acordo fez com Bolsonaro? Não sei. Na ânsia de se justificar, o mandatário disse que a concordância entre eles é de cem por cento, citando os casos das armas, dos costumes e do aborto. Se for assim, é mau sinal. Vamos ver o que isso vai significar na prática.

Neste domingo, o presidente foi à casa de Dias Toffoli, acompanhado do seu indicado e de Davi Alcolumbre, presidente do Senado. O ministro do Supremo o recebeu à porta com um abraço, para desaire, reitere-se, dos aliados de Bolsonaro, que gostavam mesmo do líder que frequentava comícios golpistas e que, em vez de falar com integrantes do Supremo, gritava para o tribunal: "Acabou, porra!"

Nota: o "chega-pra-cá" entre Bolsonaro e Toffoli foi um dos abraços héteros mais entusiasmados de que se tem notícia. Havia, claro!, ali uma identidade de gênero — sem ideologia, suponho. Ou seria uma comunhão no gênero "ideologia"? Vai saber. Fato: as hostes bolsonaristas foram à loucura nas redes sociais. Querem ver seu ídolo abraçando fascistoides e conspiradores, não um ministro do Supremo. Ver os reaças curtindo uma dor de corno não tem preço. Sigamos.

Também o lavajatismo e seus caluniadores profissionais se agitam porque vislumbram uma ameaça à operação, sem que haja elementos fáticos para isso. É que, diz-se por aí, Nunes tenderia a votar no Supremo segundo o que vai na letra da lei, o que faria dele um garantista. O Brasil deve ser o único país do mundo em que pessoas que se dizem empenhadas em combater a corrupção veem um risco na indicação de alguém que tem a fama de cumprir a lei.

Ah, sim: o Brasil 200, um grupo de empresários, também estaria chateado... Caramba! Até agora, limito-me a dizer que nada há, que se saiba, na biografia de Nunes que o desabone para o Supremo. O tal Brasil 200 se opor a seu nome é mais um excelente sinal. Dessa turma, até agora, nada saiu que não seja de um reacionarismo tão atrasado como constrangedor.

As milícias bolsonaristas merecem um reconhecimento: de tal sorte estão caprichando na estupidez que levaram aquele a quem chamam "Mito" a falar a verdade. Agora falta o tio ganhar R$ 100 milhões na Mega-Sena.

Por Reinaldo Azevedo

2 comentários:

AHT disse...

O ELEITORADO NÃO APRENDE E MANSAMENTE SE CONFORMA

Aquela sempre traída maioria do eleitorado
logo se encantou por aquele esfaqueado Mito
que prometia a todos defender
e, pela amada pátria, tudo fazer!

Então, depois de mil juras e radiantes de felicidade,
Nas Urnas esses eleitores ao Mito se entregaram.
Passada a lua de mel, a dor da decepção:
Sentiram protuberâncias renascendo em suas testas.


Moral da Historia: "Você tem que aprender a não confiar em uma raposa. Porque elas são traiçoeiras. Vão enganar você. Vão enganar a todos." (Teen Wolf)

Ou, segundo sábias palavras ditas por um velho raposão do Centrão, "Chifre é igual diabetes, alguns morrem sem saber que tem, outros descobrem e passam a vida inteira controlando!

AHT disse...

Graças à maioria dos nossos políticos e autoridades de ontem e de hoje, o nosso único (e gratuito) remédio é rir das nossas próprias desgraças. Não construíram as fundações para que o Brasil se transformasse em uma Grande e Respeitável Nação. Quando muito, conseguiram construir e difundir a imagem do Brasil em, O PAÍS DA CORRUPÇÃO E DA PIADA PRONTA.