sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Um governo em vertigem



Uma vez que o presidente Jair Bolsonaro foi capaz de demitir o mesmo funcionário duas vezes em menos de 24 horas, é arriscado dizer que ela fará isso ou aquilo. De resto, gosta de contrariar previsões. É capaz de adiar o que faria de imediato só para que não digam que ele agiu pressionado. Cada um com suas manias.

Depois de demitir o 02 da Casa Civil da presidência da República por causa do ato “complemente imoral” de voar à Europa e à Ásia em jatinho da FAB, Bolsonaro voltou a empregá-lo a pedido dos filhos. Tão logo seu gesto foi reprovado nas redes sociais que ele tanto preza, acabou convencido a demiti-lo outra vez.

E foi então que aproveitou o momento para esturricar o 01 da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que estava de férias nos Estados Unidos e que, ali, aproveitou o ócio para visitar o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, o guru dos Bolsonaro. Lorenzoni foi o primeiro político a comprar ações da candidatura de Bolsonaro a presidente.

Mas o que isso importa a essa altura? Amizade e política nem sempre andam juntas – salvo quando se trata de parentes. Bolsonaro começou a desidratar Lorenzoni ao subtrair-lhe sua mais importante função – a de coordenador político. Ontem, esvaziou o resto dos seus poderes.

Isso quer dizer que Lorenzoni está fora do governo? Em um governo normal estaria. Mas esse é tudo menos um governo normal como está farto de provar. Lorenzoni deu por finda suas férias e espera ser recebido, hoje, por Bolsonaro. Adiantou que não pedirá demissão. Bolsonaro poderá lhe oferecer outro emprego.

O presidente acha que todo homem tem um preço. Ao demitir, a pedido do filho Carlos, o ministro Gustavo Bebbiano da Secretaria da Presidência, ofereceu-lhe um lugar na diretoria de Itaipú. O salário era alto. E o trabalho, pouco. Bebbiano bateu a porta do gabinete de Bolsonaro e foi embora. Virou adversário dele.

A comportar-se como de costume, Bolsonaro não entregará por enquanto a cabeça de Abraham Weintraub, o ministro da Educação, alvo de ataques há dois dias do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara. Se dependesse de ministros que cercam Bolsonaro, Weintraub teria sido degolado há meses.

Não faltam peças estragadas no governo, nenhuma que careça de conserto. O ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, é uma. Tendo perdido a interlocução com seus pares internacionais, esquenta a cadeira à espera do seu substituto. Com o vice-presidente à frente das ações na Amazônia, tornou-se dispensável.

Presidentes só promovem reformas em larga escala quando o governo vai muito mal, ou quando é atingido por uma crise. Não querem dar a impressão de que enfrentam dificuldades. Bolsonaro poderá copiá-los. Ou não.

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