quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Teatro da queda do chefe do INSS foi mal ensaiado


Foto: Lucas Borges Teixeira; Edição: Maria Carolina Abe

A saída de Renato Vieira da presidência do INSS veio bem e chegou tarde. Armou-se em torno do personagem um teatro ofensivo e inútil. A coreografia ofende porque tenta passar a ideia de que a novidade não tem nada a ver com as filas que se formaram na porta das agências do órgão. Revela-se inútil porque os 2 milhões de brasileiros que aguardam a análise de pedidos de aposentadoria ou auxílio doença não foram adequadamente ensaiados para fazer o papel de bobos.

Incapaz de planejar soluções para o previsível congestionamento que sobreveio à reforma da Previdência, a burocracia presidida por Renato Vieira revelou-se genial na organização do caos. O descalabro pedia demissão. Porém, providenciou-se para que o gestor da inépcia saísse "a pedido", por "razões pessoais".

Rogério Marinho, o secretário de Previdência do Ministério da Economia, formalizou a pantomima assim: "Hoje tivemos uma conversa com o presidente Renato Vieira, e ele consolidou sua posição de sair do INSS, a pedido. Foi uma conversa amadurecida ao longo dos últimos 15 dias. O Renato acha que precisa se dedicar a seus projetos e nós aceitamos sua demissão".

Um repórter chato ainda perguntou se a coisa não tinha relação com as filas. E Marinho: "Razões particulares". Por uma trapaça da sorte, os patrícios que se acotovelam na fila do INSS não têm a prerrogativa de dizer que enfrentam o suplício por razões "pessoais" ou "particulares". Prefeririam não ficar velhos ou doentes. Aceitando o inevitável, gostariam de receber tratamento digno. Submetidos à indignidade, não mereciam ver uma solução óbvia —a demissão do responsável— convertida num afastamento farsesco.

Por Josias de Souza

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