quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Saiba por que a Embraer é tão importante para a Boeing


Jato E190-E2 da Embraer em feira de aviação de Farnborough, no Reino Unido, em 2016. Foto: Simon Dawson / Bloomberg
Jato E190-E2 da Embraer em feira de aviação de Farnborough, no Reino Unido, em 2016. Foto: Simon Dawson / Bloomberg

O acordo da Boeing com a Embraer é estratégico para a empresa americana não só porque amplia sua presença no exterior como também porque permite à empresa entrar no mercado de aeronaves de médio e pequeno porte. Além disso, reforça sua posição para competir com a europeia Airbus, num momento em que o duopólio das duas gigantes da aviação mundial começa a sofrer concorrência de rivais de Rússia, Japão e China.

Além disso, ao acrescentar os jatos da família E da Embraer ao seu portfólio, a Boeing aumenta o arsenal para sua mais recente batalha com a Airbus: o mercado de aeronaves de 100 lugares. A gigante aeroespacial europeia assumiu o controle da família de jatos C-Séries da canadense Bombardier em julho do ano passado, por meio de uma joint-venture, deixando a Boeing sem presença neste mercado. Enquanto a Embraer, rival tradicional da Bombardier, viu-se diante de um concorrente com renovado poder de fogo, graças à forte presença global da Airbus.

Por décadas, Boeing e Airbus mantiveram o foco em aeronaves maiores e mais lucrativas, evitando se aventurar no mercado de regionais, que exigem custos semelhantes de desenvolvimento, mas são vendidos por preços menores. Mas o acordo da Airbus com a Bombardier e, agora, a parceria entre Boeing e Embraer mostram que as gigantes do setor não querem deixar espaço neste lucrativo e estreito mercado para novos e ambiciosos players, como a Commercial Aircraft Corp. of China.

A Embraer trará para a Boeing uma expertise em engenharia que a gigante americana poderá usar no projeto de seu novo jato comercial de médio porte, apelidado por analistas de 797. A fabricante brasileira também tem uma capacidade de produção a custo menor que a Boeing e que poderá ser usada para fabricar componentes como trens de pouso e sistemas de partidas. Isso permitirá à Boeing internalizar uma maior parte de seus suprimentos, avalia Ken Herbert, analista da Canacoord Genuity.

Embraer é conhecida por cumprir prazos e orçamentos

A Embraer superou a Bombardier como maior fabricante de jatos regionais e goza de uma reputação internacional pelas suas proezas em engenharia. Numa indústria na qual os atrasos em novos projetos são a regra, a Embraer introduziu dez modelos inteiramente novos de aeronaves nos últimos 15 anos, quase sempre dentro do prazo e do orçamento previstos, conforme destacou em análise a clientes o especialista Ron Epstein, do Bank of America Corp. no início deste ano.

Em São José dos Campos, sede da Embraer, a empresa apresentou este ano seu primeiro jato da nova série da família E2. O jato E190-E2 é concorrente direto da menor aeronave C-Series da Bombardier, com capacidade para até 114 passageiros e com turbinas fornecidas pela Pratt & Whtiney, mesma fornecedora da canadense.

O acordo entre Airbus e Bombardier foi um incentivo importante para o negócio anunciado em Embraer e Boeing. A Airbus comprou fatia majoritária do programa de aeronaves C Series da Bombardier. Um dos pontos centrais para o fechamento da aliança entre a canadense e a europeia é a discussão sobre subsídios de Estados a fabricantes de aeronaves. A Embraer já abriu processo junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) no qual questiona o apoio do governo canadense à Bombardier para a comercialização dos C Series. Os Estados Unidos ameaçavam impor tarifas de até 300% aos jatos da fabricante canadense pois consideravam que a empresa se beneficiava de incentivos que afetavam a competição com a Boeing. Com a parceria entre Airbus e Bombardier, os aviões C Series poderão ser construídos na fábrica da Airbus no Alabama, o que acabaria com as tarifas de importação.

Para a Bombardier e o programa C Series, desenvolvido a um custo de US$ 6 bilhões, a aliança representa a chance de ganhar economia de escala e melhor estratégia de vendas. A fabricante canadense não vendia aeronaves do C Series há quase dois anos. A expectativa é que a parceria pode mais do que duplicar o valor da família de aviões de 110 a 130 lugares.

No O Globo (em 05/07/2018)

Nenhum comentário: