Nada como a luz do Sol para iluminar os interesses que se escondem nas sombras do debate sobre a energia solar. Em 2012, o governo decidiu incentivar a produção e o consumo de energia fornecida pelos raios solares. A ideia era ampliar o uso de uma fonte de eletricidade limpa. Fixou-se, então, um prazo de oito anos para a rediscussão dos subsídios concedidos ao setor. Significa dizer que o modelo seria reavaliado neste ano da graça de 2020.
Num processo marcado pela falta de transparência, a Agência Nacional de Energia Elétrica, Aneel, elaborou uma proposta que reduziria em percentuais que variam de 30% a 60% a economia obtida pelo pedaço da sociedade que instalou placas de energia solar nos telhados. Fustigado nas redes sociais pelas posições que adotou em temas variados —do fundão eleitoral à flacidez no combate à corrupção—, Jair Bolsonaro enxergou na iniciativa uma oportunidade para exercitar o seu populismo.
O presidente pegou carona num movimento contra a hipotética taxação do Sol. Confundiu de propósito a eliminação de subsídio com criação de tributo. Desconsiderou um detalhe: há na praça dois tipos de consumidores de energia solar: o doméstico e o empresarial. Ambos utilizam a rede de transmissão de energia convencional. O consumidor residencial joga na rede durante o dia o excedente de energia solar que consumirá à noite. O empresarial criou condomínios e fazendas que vendem a energia fornecida por Deus e subsidiada pelo Estado.
Como não há serviço grátis, quem usa a rede para transportar energia solar transfere o custo para o consumidor que não tem dinheiro para comprar painéis solares. Ao interditar o debate sem diferenciar os consumidores ficou do lado de logomarcas solares como a Bom Futuro Agrícola, empresa da família Maggi, a telefônica Claro, o banco Santander, a Caixa Econômica, o Magazine Luiza, as Lojas Americanas e até companhias tóxicas como a JBS. Estima-se que, em dois anos, o subsídio custará R$ 2,5 bilhões, beneficiando 600 mil usuários de energia solar. Em 2020, a tarifa social criada para baratear a conta de luz de 9 milhões de brasileiros pobres custará quase a mesma coisa: R$ 2,6 bilhões. A comparação entre as duas cifras transforma Bolsonaro em adepto de uma inusitada modalidade de populismo: o populismo de rico.
Por Josias de Souza
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