Descobriu-se que Fabio Wajngarten, chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, flerta com o inaceitável. Como empresário, recebe dinheiro de emissoras de TV e agências de publicidade contratadas pela repartição que dirige como servidor público.
Jair Bolsonaro reagiu ao inadmissível como se operasse em duas velocidades. Ao hesitar em afastar seu secretário de Comunicação, o presidente revelou-se intelectualmente lento. Mantendo-o por mais tempo na função, reforçará a suspeita de que é um político eticamente ligeiro.
As duas velocidades de Bolsonaro são insultuosas. A lentidão intelectual afeta a própria autoridade do presidente, pois fica no ar a sensação de que o derretimento moral do Zero Um Flávio Bolsonaro fez da anormalidade um outro nome para normal no governo do capitão.
A ligeireza moral transforma de sólido em gasoso o discurso ético de Bolsonaro. Ele prometera na campanha honrar os eleitores que lhe deram votos no pressuposto de que saciaria a fome de limpeza que pairava sobre as urnas.
Se quisesse ser levado a sério, Bolsonaro mandaria o secretário Fabio Wajngarten para o olho da rua. Impossível manter no Planalto um auxiliar que mantém um pé em cada lado do balcão e não enxerga o conflito de interesses na imagem do espelho.
O diabo é que há descalabros demais ao redor do presidente— o filho acusado de peculato e lavagem de dinheiro, o ministro do Meio Ambiente condenado por improbidade, o ministro do Turismo denunciado por cultivar um laranjal em Minas Gerais, o líder no Senado enrolado na Lava Jato, isso e aquilo...
Em privado Bolsonaro declara-se chateado com o chefe da Secom e com o noticiário. Deveria aborrecer-se consigo mesmo. Do contrário, não conseguirá notar que uma característica inusitada dos cultores da falta de ética se observa no governo. Os malfeitores estão sempre em outros ambientes —principalmente nas redações de jornal.
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