A presença de Jair Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, entre os dias 21 e 24 deste mês, seria uma fabulosa oportunidade para o capitão exercitar uma das atribuições mais nobres de um presidente: a tarefa de caixeiro-viajante. Mas Bolsonaro não perde a oportunidade de perder oportunidades.
Há um ano, em janeiro de 2019, o presidente desperdiçou sua estreia internacional justamente no fórum de Davos. Dispunha de 45 minutos para vender o seu peixe a uma plateia que incluía chefes de Estado, executivos de corporações globais e diretores de órgãos multilaterais. Discursou por apenas seis minutos. Foi constrangedor.
Bolsonaro despejou sobre a plateia uma retórica de redes sociais. Espremido, todo o conteúdo de sua fala fornecia um sumo que caberia com folga em meia dúzia de tuítes. Na prática, Bolsonaro serviu em Davos uma versão ultralight do mesmo cardápio eleitoral digerido pelos brasileiros na campanha de 2018. Prometeu diminuir a carga tributária, privatizar, equilibrar as contas públicas, investir e gerar empregos. Comprometeu-se com o combate à corrupção. Disse coisas definitivas sem definir muito bem as coisas. Não entusiasmou.
Agora, Bolsonaro teria a oportunidade de expor no mesmo fórum o mostruário do primeiro ano de sua administração. Está longe de conter tudo o que prometeu. Mas na área econômica o governo tem o que mostrar. Haveria material para muito mais do que seis minutos de prosa: reforma da Previdência, redução do déficit, inflação miúda, juros civilizados... Tudo isso somado à renovação de outros compromissos indispensáveis soaria como música aos ouvidos de investidores. E o que faz Bolsonaro? Cancela a viagem sem explicar as razões.
O ministro Paulo Guedes representará o presidente no encontro. Isso não resolve o problema. Quem dispõe da legitimidade dos votos é Bolsonaro, não o ministro da Economia. Apaixonado pelos Estados Unidos, Bolsonaro deveria se inspirar em Harry Truman, um antigo presidente americano.
Truman dizia que "um presidente é apenas um relações-públicas". Às vezes precisa "bajular e beijar". Outras vezes precisa "chutar as pessoas para que elas façam suas obrigações." A parte dos chutes Bolsonaro já desenvolveu. Mas ele é incapaz de exibir as qualidades de um bom caixeiro-viajante.
Por Josias de Souza
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