Até os surdos se espantam com a eloquência do silêncio de Jair Bolsonaro diante dos erros cometidos na correção das provas do Enem. Na sexta-feira, o ministro Abram Weintraub disse em entrevista que, sob Bolsonaro, a pasta da Educação entregou o melhor Enem de todos os tempos. No dia seguinte, manhã de sábado, o mesmo Weintraub divulgava um vídeo para informar que ocorrera um erro na correção das provas do Enem.
Sempre tão loquaz, Bolsonaro manteve-se quieto. Frequentou as redes sociais durante todo o final de semana. Mas não dedicou uma mísera palavra à encrenca do Enem. Bolsonaro assistiu passivamente à encenação de Abram Weintraub, seu ministro "imprecionante", com "c" de Casa. Feroz com os adversários, o ministro da Educação foi condescendente consigo mesmo. Ele minimizou o problema.
Poucos estudantes foram afetados, declarou Weintraub desde a primeira hora. Mencionou 0,1% dos participantes do exame. Ora, ainda que houvesse um único estudante prejudicado, para aquele aluno o MEC teria sido 100% incompetente. O erro ocorreu na gráfica, esquivou-se o ministro, como se isso o eximisse de responsabilidades.
Há concordância no silêncio de Bolsonaro. Se subisse no caixote das redes sociais para ralhar com o ministro, o presidente teria de reconhecer problemas que infelicitam a área da Educação. E Bolsonaro já deu inúmeras demonstrações de apreço pela falta de preparo do seu ministro.
O que Bolsonaro não notou é que há também no seu silêncio uma boa dose de insensatez. Não é a primeira vez que ocorrem problemas no Enem. Mas é inédita a ocorrência de erros naquele que seria o melhor Enem de todos os tempos. Nesta segunda-feira, Weintraub chamou a lambança de "susto". Disse que não houve má-fé no erro. E sentenciou: "Bola pra frente".
Bolsonaro cometerá um grave erro se não exigir a identificação e punição dos responsáveis por tornar a vida de milhares de estudantes mais complicada do que deveria ser.
Por Josias de Souza
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