terça-feira, 12 de julho de 2022

Submetido ao ódio, resta ao eleitor cultivar algum apreço pela política


Bolsonarista Jorge Guaranho matou a tiros o guarda municipal petista Marcelo Arruda, no Paraná

Até bem pouco, a política brasileira era marcada pela corrupção. A falta de ética continua. Para complicar, a democracia passou a ser desafiada por um flagelo adicional: a intolerância. O fenômeno não é novo. Mas há ódio demais no noticiário dos últimos dias: o drone que cospe veneno, o explosivo que espalha fezes, os excrementos lançados sobre o carro do juiz, o assassinato do aniversariante petista pelo devoto bolsonarista. Antes, tentava-se enxergar luz no fim de túneis superfaturados. Agora, a raiva não permite ver nem os túneis.

Contra a ladroagem e a violência política, os remédios são a investigação radical e a punição exemplar. A impunidade produz um desânimo que leva ao oportunismo e à radicalização. Em momentos como o atual, marcados pela alta tensão, é importante recordar para que serve a política. O que é a política? É uma alternativa à ditadura ou à guerra civil. Na ditadura, os conflitos são resolvidos na câmara de tortura. Na guerra civil, as diferenças são solucionadas na ponta do fuzil.

A política tem suas facções. Elas são chamadas de partidos. Alimentam-se do conflito. Mas há duas regras de ouro no jogo da política. A primeira regra é que nenhuma facção tem o poder de silenciar as outras. A segunda regra é que as pessoas que não se respeitam precisam se enfrentar com respeito. Esses parâmetros são —ou deveriam ser— compulsórios.

A prioridade do ódio passou a ser impedir o país de fazer política. Resta ao eleitor tentar cultivar algum apreço pela política, mesmo que o sentimento não seja correspondido. A única forma de melhorar o processo político é interferindo nele. A munição da política é a ideia. A arma é a palavra. Os conflitos não são solucionados na porrada. Muito menos na bala. Na democracia, as diferenças se resolvem no voto.

Por Josias de Souza

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