terça-feira, 12 de julho de 2022

Bolsonarismo explode no colo de Bolsonaro, que repete a tática do Riocentro



Admirador da ditadura militar, Bolsonaro reedita em 2022 uma estratégia utilizada na década de 1980 pelo general Figueiredo, último presidente do ciclo militar. Há 40 anos, atribuiu-se a uma extinta organização terrorista de esquerda a bomba do Riocentro, que explodiu no colo de um sargento, dentro do carro de um capitão. Hoje, o bolsonarismo explode no colo de Bolsonaro a 80 dias da eleição. E o presidente responsabiliza a esquerda pelo radicalismo que ele estimulou durante os últimos três anos e meio.

Ao avalizar a conclusão conveniente do inquérito militar sobre a explosão no Riocentro, o governo Figueiredo estava, na prática, pedindo aos brasileiros que se fingissem de bobos pelo bem do Brasil. Bolsonaro agora pede ao eleitorado que se faça de tolo pelo bem da reeleição. Faz isso ao tentar questionar o vínculo entre o seu discurso intolerante e belicoso com o comportamento do bolsonarista que disparou os tiros que mataram o tesoureiro petista em Foz do Iguaçu,

Figueiredo sabia que a tentativa de dissociar os militares da bomba do Riocentro era uma piada. Mas não queria arriscar a estabilidade do regime por algo tão supérfluo quanto a verdade. Até os membros do comitê da reeleição avaliam que é precária a tentativa de Bolsonaro de culpar a esquerda lulista pela morte de um petista que celebrava o aniversário numa festa decorada com fotos de Lula. Mas o capitão, numa rara iniciativa, procurou os repórteres no Planalto para perguntar: "O que eu tenho a ver com esse episódio de Foz do Iguaçu?"

Bolsonaro se irritou com uma repórter que ousou lembrar que ele havia falado em "fuzilar a petralhada". O capitão perguntou: "Você sabe o que é sentido figurado? Você estudou português na tua faculdade ou não?" Até o último dia do governo Figueiredo, a carcaça do Puma fumegante se manteve no centro do gabinete presidencial como uma metáfora da decadência da ditadura militar. Respeitadas as diferenças, a tentativa de Bolsonaro de culpar a esquerda pela intolerância que ele estimulou é uma nova conclamação ao sacrifício patriótico da inteligência nacional.

Figueiredo saiu pela porta lateral do Planalto, sem passar a faixa presidencial para José Sarney. Ao questionar o sistema eleitoral, Bolsonaro insinua que pode levar sua imitação às últimas consequências.

Por Josias de Souza

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