terça-feira, 26 de julho de 2022

Nova 'Carta aos brasileiros' une a força da tradição e a urgência da hora na defesa da democracia



Texto se remete a um documento histórico e chega na hora em que o Brasil mais precisa dessas vozes

A nova carta em defesa do Estado democrático de Direito que está sendo articulada por um grupo de empresários, juristas, artistas, intelectuais, esportistas tem a força da tradição porque se remete a um documento histórico e chega na hora em que a democracia brasileira mais precisa dessas vozes e desse reforço. Mais de três mil pessoas da economia, artes, esportes assinaram o documento e o ápice será no dia 11 de agosto, no Largo de São Francisco, na faculdade de Direito da USP. Mesmo dia e mesmo local em que, em 1977, o grande professor Goffredo da Silva Telles leu a Carta aos Brasileiros, um texto de repúdio à ditadura, e que foi um marco da redemocratização. Agora a luta é para preservar a democracia.

O movimento surge porque o presidente da República tem sistematicamente ameaçado a democracia brasileira e dito que não respeitará o resultado das eleições. Na convenção do PL, convocou os seguidores a ocupar as ruas no dia 7 de setembro, sequestrando o bicentenário da Independência. Mas as ameaças ao Estado de Direito foram uma constante nestes últimos anos.

Entre os signatários estão Roberto Setubal, Pedro Moreira Salles e Candido Bracher (ex-Itaú), José Olympio Pereira (ex-presidente do Credit Suisse), economista José Roberto Mendonça de Barros e o ex-presidente do BC, Armínio Fraga, Chico Buarque, Walter Casagrande, Fábio Barbosa (Natura), Walter Schalka (Suzano). Os ex-ministros do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello, Sepúlveda Pertence, Carlos Ayres Britto, Carlos Velloso e Eros Grau também assinaram. A informação é de que a carta será lida por Celso de Mello. Na carta, os autores dizem "Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia. Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática".

Esse documento chega na urgência da hora, o momento em que as ameaças golpistas do presidente escalaram. Em um trecho, o texto afirma " Imbuídos do espírito cívico que lastreou a Carta aos Brasileiros de 1977". Quem viveu a luta contra a ditadura sabe como foi importante aquela carta aos brasileiros do professor Goffredo foi um momento de esperança de que aquele pesadelo acabaria e que havia resistência . Por isso esta nova carta surge como algo importante porque marca uma posição de coalizão entre pessoas que pensam diferente, mas têm o mesmo objetivo.

Em outra parte, afirma "Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições".

A eleição é uma festa cívica, em que podemos discutir e pensar nos problemas do país. Fazer um mergulho no Brasil. Mas não estamos conseguindo porque a gente fica o tempo todo assustado com as ameaças do presidente da República contra a ordem democrática. Então, muito bem-vindo esse documento, que chega com força de todas as pessoas que assinaram e a força na tradição brasileira naquele mesmo lugar, no mesmo 11 de agosto. E que termina com a frase "Estado democrático de direito sempre".

Por Miriam Leitão em O Globo

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