terça-feira, 12 de julho de 2022

Entre Jair Bolsonaro e a Constituição, Forças Armadas escolheram a confusão



A notícia de que as Forças Armadas requisitaram ao Tribunal Superior Eleitoral arquivos relacionados às eleições presidenciais de 2014 e 2018 revelam que o Ministério da Defesa escolheu um lado. Entre Bolsonaro e a Constituição, os militares optaram por se associar à confusão projetada pelo presidente. É como se o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, estivesse empenhado em converter o questionamento de Bolsonaro ao sistema eleitoral eletrônico num processo de desmoralização das Forças Armadas.

Os resultados de 2014 e 2018 são justamente os dois que Bolsonaro aponta como fraudulentos. Num, Dilma prevaleceu sobre Aécio. O PSDB exigiu auditoria independente. Obteve amplo acesso aos dados. Virou-os do avesso. Ao final, o tucanato colocou as plumas do rabo entre as pernas. Em 2018, o próprio Bolsonaro prevaleceu sobre Haddad. A esse ponto chegamos. O presidente cospe nas urnas que o elegeram. Alega que, sem fraude, teria vencido no primeiro turno. Não pediu auditoria. Intimado a apresentar provas que dizia ter, desconversou.

Bolsonaro, como se sabe, não está preocupado com eleições limpas. Inquieta-se com a sujeita que terá que aprontar caso as urnas prefiram Lula. As Forças Armadas tampouco se interessam pela verdade. Infelizmente, optaram por vincular seu prestígio cadente ao Apocalipse de Bolsonaro.

A 80 dias da eleição, a Justiça Eleitoral deveria considerar a hipótese de dar um basta na pantomima militar. As Forças Armadas foram convidadas a participar de uma comissão de transparência eleitoral do TSE no pressuposto de que se dispunham a colaborar. Tornaram-se coadjuvantes fardados de uma palhaçada presidencial.]

Na semana passada, o presidente do TSE, Edson Fachin, fez uma previsão desalentadora. Disse numa palestra nos Estados Unidos que o Brasil pode viver crise maior do que a invasão do Capitólio, sede do Legislativo americano, por simpatizantes de um derrotado Donald Trump.

Confirmando-se os piores prognósticos, as Forças Armadas podem ser chamadas para restaurar a ordem. O chefe supremo talvez indefira o pedido. A Constituição prevê que chefes de outros Poderes podem requisitar uma GLO, operação de garantia da lei e da ordem.

No dia da eleição, estará no comando do Supremo a ministra Rosa Weber. Interrompendo-se agora a palhaçada, pode-se oferecer ao Alto Comando a oportunidade de dar meia-volta, retornando para o quadrado constitucional.

Por Josias de Souza

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