quarta-feira, 27 de julho de 2022

Michelle mistura fé e política para tentar reduzir rejeição a Bolsonaro



Primeira-dama aposta no discurso messiânico em busca de eleitoras evangélicas

Os marqueteiros do PL querem ampliar a presença de Michelle Bolsonaro na campanha à reeleição. A julgar pelo que se viu no domingo, não parece uma boa notícia para o Estado laico.

Escalada para falar no lançamento da candidatura do marido, a primeira-dama investiu na mistura entre religião e política. Em 12 minutos de discurso, repetiu 37 vezes o nome de Deus ou do Senhor.

“A reeleição não é por um projeto de poder, como muitos pensam. A reeleição é por um propósito de libertação, um propósito de cura para o nosso Brasil”, disse.

Em tom messiânico, Michelle apresentou o capitão como um “escolhido de Deus” para governar. “Deus tem promessas para o Brasil, e todas as promessas irão se cumprir. Enquanto existir esse joelhinho aqui, as promessas de Deus irão se cumprir”, garantiu.

Entre “améns” e “aleluias”, a primeira-dama fez uma revelação sobre a rotina em Brasília. Disse levar um grupo de evangélicos ao gabinete presidencial toda terça depois do expediente. “Quando o Planalto se fecha, eu entro com os meus intercessores e oro na cadeira dele”, contou.

No fim da pregação eleitoral, ela tentou equiparar a disputa política a uma guerra santa. “Essa luta não é contra homens e mulheres, é contra potestades e principados”, discursou.

Michelle foi encarregada de uma missão espinhosa: tentar reduzir a rejeição do marido entre as mulheres. Segundo o último Datafolha, 61% das eleitoras dizem não votar no presidente de jeito nenhum. É fácil entender os motivos da resistência.

Em três décadas na política, o capitão se notabilizou por ataques e ofensas a mulheres. A lista de alvos é extensa. Inclui artistas, repórteres e parlamentares que ousaram reagir a suas grosserias.

No governo, Bolsonaro continuou a desagradar o público feminino. Estimulou a compra de armas, reprovada por 78% das eleitoras, e debochou de hospitalizações e mortes na pandemia. Pelo conjunto da obra, as mulheres agora querem enxotá-lo do Planalto. A primeira-dama terá que orar muito para convencê-las a mudar de ideia.

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